sábado, 27 de setembro de 2014

Especulação com ebola volta a impulsionar cotação do cacau

Às vésperas da colheita de uma esperada safra recorde de cacau na Costa do Marfim, maior produtor mundial da commodity, os preços da amêndoa voltaram a disparar. A epidemia de ebola continua se espalhando entre a população das vizinhas Guiné e Libéria como um rastilho de pólvora, e os compradores temem que o mercado da amêndoa marfinense seja afetado ao menor sinal do vírus nas fronteiras do país.

Em dez dias, os contratos futuros de segunda posição de entrega na bolsa de Nova York subiram 8,6%, ou US$ 261. Ontem, os fundos buscaram embolsar parte dos lucros obtidos até agora, o que provocou queda de US$ 29 no lote para março de 2015, que fechou a US$ 3.289 a tonelada.
A última vez em que os preços se mantiveram acima de US$ 3.200 a tonelada na bolsa americana foi em 2011, quando o então presidente marfinense Laurent Gbagbo se recusou a aceitar a derrota nas eleições, desencadeando uma guerra civil.

Agora, os traders afirmam que as preocupações sobre os efeitos do ebola vão desde interrupções da colheita, suspensão das atividades nos portos a até levantamento de barreiras sanitárias.

Até o momento, porém, não houve nenhum caso do vírus na Costa do Marfim e nenhum problema comercial foi registrado. Mesmo assim, fundos especulativos estão aproveitando o clima de incerteza para comprar posições. Inclusive algumas indústrias, temerosas de problemas de fornecimento, também têm acertado negócios nos lotes com vencimentos mais próximos, afirma Thomas Hartmann, analista da TH Consultoria, em Salvador.

O furor nas bolsas internacionais já respingou no mercado interno. Em dez dias, o preço médio do cacau ofertado nas praças de Ilhéus e Itabuna subiu 11,6% e ficou ontem em R$ 115 a arroba.
A relação entre oferta e demanda global, no entanto, ainda é folgada. Segundo Hartmann, estimativas privadas avaliam que a safra mundial de cacau 2013/14, que termina no dia 30, terá estoques entre 1,43 milhão e 1,84 milhão de toneladas, o que permite assegurar cerca de cinco meses de consumo, conforme o consultor.

Começa a se somar a esse volume, no mês seguinte, a nova safra da Costa do Marfim, estimada pelas autoridades em 1,8 milhão de toneladas. Em 2013/14, o país produziu 1,73 milhão de toneladas da amêndoa, segundo a última projeção da Organização Internacional do Cacau, mas esse dado ainda será revisto e o volume poderá chegar a 1,8 milhão de toneladas.

"A conjuntura fundamental é tudo menos altista", afirma o analista da TH Consultoria. Hartmann descarta a possibilidade de faltar cacau no mundo, mesmo com eventuais problemas de fornecimento da amêndoa marfinense por causa do ebola, devido aos altos estoques globais.

O "pânico" instalado no mercado já foi suficiente, porém, para indicar um aumento nos custos de produção do chocolate. Entre os dias 12 e 19 deste mês, o preço apurado pela trading Cocoa Merchants Association of America da manteiga de cacau, que é utilizada para dar consistência ao doce, subiu 6,3% e ficou em US$ 8.473 a tonelada.
 

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