domingo, 30 de março de 2014

Descalço sobre a terra vermelha

Roma, Cidade do Vaticano, em junho de 1988. O Bispo Pedro Casaldáliga é chamado ao Vaticano para a apresentação de um "teste de fé" para o Cardeal Ratzinger e o cardeal Ghent. Durante a entrevista, Casaldáliga relembra os momentos mais importantes de 20 anos foi para o Brasil. 

Julho de 1968. Peter e seu assistente Daniel Casaldáliga alcançam a missão de São Félix do Araguaia, uma cidade brasileira no meio de uma enorme região que foi habitado por povos indígenas, mas ultimamente tornou-se a terra prometida de milhares brasileiros sem fortuna. 

Desde o primeiro contato, Casaldáliga ciente de que esta terra é tão bonita como é perigosa e que as pessoas tiveram que se acostumar com a violência e a extrema pobreza como uma parte natural de suas vidas e viver em muito cedo primeiro essa pessoa duramente.

Assista o vídeo em: http://www.tv3.cat/videos/4975851/Descalc-sobre-la-terra-vermella---capitol-1

Terra Indígena Tupinambá de Olivença: demarcação já

Por que isto é importante
Vítima de ações violentas cada vez mais intensas, o povo Tupinambá, que vive no estado da Bahia (Brasil), aguarda há nove anos a conclusão do processo de demarcação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença. Seus direitos originários – que estão sendo violados pelo Estado brasileiro – são garantidos pela Constituição Federal de 1988 e assegurados pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), aprovada pelo Brasil em 2002.

O povo Tupinambá tem sido vítima da opção do governo da presidenta Dilma Rousseff pelo agronegócio. Concluídos os estudos que comprovaram de maneira cabal a ocupação tradicional do território pelos indígenas, cabe agora ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, assinar a portaria declaratória da Terra Indígena. O documento está nas mãos do ministro há cerca de um ano e meio, apesar de a legislação determinar o prazo de 30 dias após o recebimento do processo para que o ministro dê os encaminhamentos pertinentes. A omissão do Estado tem gerado tensão no sul da Bahia, que se intensificou em agosto de 2013. Neste mês, um caminhão que transportava estudantes indígenas e não indígenas foi alvejado, deixando dois jovens feridos; indígenas tiveram suas casas incendiadas; e veículos de órgãos governamentais também foram incinerados, entre outros ataques.

Políticos e fazendeiros da região, contando com o apoio da mídia local, vêm cometendo crimes contra a comunidade, divulgando dados inverídicos sobre o processo de regularização da Terra Indígena Tupinambá de Olivença, incitando a violência e o preconceito. Cabe ressaltar que a legislação brasileira estabelece que os ocupantes não indígenas de boa fé devem ser reassentados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e receber indenizações pelas benfeitorias, a serem pagas pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Dessa forma, os direitos de todas as pessoas, indígenas e não indígenas, são assegurados em lei, como forma de realizar a justiça e promover a paz.

Por tudo isso, repudiamos a postura arbitrária e criminosa do governo federal, através do Ministério da Justiça e dos demais órgãos competentes, no que diz respeito à resolução do conflito que atinge o povo Tupinambá e convocamos toda a sociedade, no Brasil e exterior, a apoiar a luta pela regularização da Terra Indígena Tupinambá de Olivença e exigir da presidenta da República, Dilma Rousseff, respeito à Constituição Federal e aos povos indígenas do Brasil.

Exigimos do Estado brasileiro a urgente conclusão do processo de demarcação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença, no estado da Bahia. A tradicionalidade da terra Tupinambá está comprovada, mas, em clara violação à legislação brasileira e aos tratados internacionais, o processo já se arrasta por nove anos, acirrando o conflito na região. Demarcação já!

Assine a petição em: 

Para saber mais sobre a situação dos Tupinambá, visite campanhatupinamba.wordpress.com.

segunda-feira, 24 de março de 2014

I CARAVANA AGROECOLÓGICA E CULTURAL DA BAHIA

Entre os dias 25 e 27 de março, famílias agricultoras e organizações se reúnem para pautar a Agroecologia como modelo de desenvolvimento sustentável em contraponto ao agronegócio, centrado na monocultura e no uso abusivo de agrotóxicos. 

Municípios do interior da Bahia receberão cerca de 200 pessoas entre os dias 25 e 27 de março. Organizada pela Articulação de Agroecologia da Bahia (AABA), a I Caravana Agroecológica e Cultural tem o objetivo de pautar a Agroecologia como modelo de desenvolvimento sustentável em contraponto ao agronegócio, centrado nas monoculturas, no uso abusivo de agrotóxicos e na crescente concentração da terra e degradação dos recursos naturais. 

A Caravana terá início na cidade de Conceição do Coité, onde as delegações farão a opção por uma das Rotas a serem trilhadas no dia 26, visitando experiências agroecológicas no Território do Sisal, da Bacia do Jacuípe e do Piemonte da Diamantina. No dia 27, o encerramento fica por conta de uma caminhada em Conceição do Coité, com a participação de agricultores, agricultoras, representantes de organizações e movimentos sociais e outros atores e parceiros locais. 

A iniciativa acontece como processo preparatório para o III ENA – Encontro Nacional de Agroecologia, marcado para acontecer no mês de maio, no município de Juazeiro, na Bahia. 

A Articulação de Agroecologia da Bahia (AABA) reúne organizações, redes e movimentos que se identificam com a construção e fortalecimento do campo agroecológico, priorizando o diálogo e o intercâmbio de experiências entre atores que estão elaborando e experimentando alternativas de produção, comercialização, organização comunitária, e gestão de recursos naturais, identificados com princípios e práticas agroecológicas. 

SERVIÇO: O quê? I Caravana Agroecológica e Cultural da Bahia Onde? Território do Sisal, Território da Bacia do Jacuípe e Território do Piemonte da Diamantina Quando? 25 a 27 de março.

Assista o vídeo em: https://www.youtube.com/watch?v=oegJgHMMAsI&feature=youtu..be

MAIS INFORMAÇÕES: 

Ana Dalva (75) 3322-4444 ou Mateus (75) 9815-5570 – MOC ou pelo email caravanabahia@gmail.com

Seminário "Sistemas Agroflorestais e Inclusão Produtiva de Assentamentos e Agricultores Familiares no Sul da Bahia"


Feira de Flores e Chocolate do Sul da Bahia

O evento visa oferecer ao público em geral e aos empreendedores, em particular, a oportunidade de realizar negócios e de promover seus produtos em um ambiente rural, apresentando ao publico produtos de altíssima qualidade e estimulando o turismo rural na região.

A feira será realizada pelo Instituto Cabruca em parceria com a Fazenda Yrerê e contará com os patrocínios do Serviço Brasileiro às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb).

Instituto Cabruca anuncia lançamento da 2ª edição do Concurso Maiores Árvores da Região Sul da Bahia

Evento ocorrerá durante a Feira de Flores e Chocolate do Sul da Bahia

O Instituto Cabruca irá lançar no dia 27 de março, na Fazenda Yrerê, a 2ª edição do Concurso Maiores Árvores da Região Sul da Bahia, cuja árvore homenageada neste ano será o Pau Brasil. O evento ocorrerá durante a Feira de Flores e Chocolate do Sul da Bahia que se estende até o dia 29 de março, oferecendo ao público uma programação bem diversificada: exposição e feira de flores, cursos sobre cacau, chocolate e flores, visita a fazenda de cacau e trilha na Mata Atlântica, além de shows musicais com artistas regionais, entre outras atrações. 

O concurso Maiores Árvores da Cabruca tem como objetivos formar produtos ecoturísticos associados a cadeia produtiva do cacau e do chocolate; reconhecer e conservar as maiores árvores da região Sul da Bahia; valorizar o Sistema Agroflorestal Cabruca e a Mata Atlântica no imaginário coletivo da região; além de estimular o turismo rural, premiando os 10 agricultores que possuem os maiores indivíduos arbóreos regionais.

Entre os resultados alcançados pelo concurso, em sua 1ª edição, no ano de 2013 destacam-se: a regularização ambiental das 10 propriedades rurais vencedoras, a formatação do roteiro turístico Caminhos do Engenho Sant'Anna e a consolidação do Projeto “Costurando O Futuro” que permitiram que camisas sustentáveis fossem produzidas por mulheres dos assentamentos Loanda, Terra Vista e Rio Aliança, gerando renda e melhorando a qualidade de vida das famílias.

A partir do lançamento, as inscrições do concurso estarão abertas na sede e no site do Instituto Cabruca (www.cabruca.org.br) e nos escritórios da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC).

sexta-feira, 21 de março de 2014

Barbárie no sul da Bahia: Jagunços incendeiam 28 casas e espancam indígenas

Mais um episódio de extrema violência envolvendo a disputa de terras ocupadas pelo povo Tupinambá ocorreu na Bahia. Desta vez, a cena dos crimes foi o município de Itapebi, localizado no extremo sul do estado, há cerca de 600 km da capital Salvador. Na última sexta-feira (7 de março), por volta das 9h, dezoito jagunços – dentre eles dois ex-policiais - fortemente armados circularam a aldeia Encanto da Patioba, renderam três homens, duas mulheres e duas crianças, espancaram dois idosos e um casal, mataram animais domésticos e de criação, roubaram bens, ameaçaram estuprar uma das mulheres e incendiaram todas as 28 casas da aldeia. 

A reportagem é de Patrícia Bonilha e publicada pelo portal do Cimi, 12-03-2014.

“Foi um massacre. Queimaram tudo o que estava dentro das casas: roupa, comida, documentos, tudo. E o que não queimaram, eles roubaram: motosserra, rádio, fogão, celular, motor de farinheira (que gera energia) e um ralador. Mataram cachorro a facão. Atiraram nos perus. Acabaram com nossas galinhas, a gente tinha pra mais de 400 galinhas na comunidade toda. Destruíram nosso canavial. Cataram nossas roças, nossas abóboras. Não sobrou nada”, se indigna o cacique Astério Ferreira do Porto, de 63 anos. Mostrando as marcas da violência deixadas em seu próprio corpo, ele relata que foi jogado no chão e algemado pelos jagunços. Em seguida, apanhou muito, e de todo jeito: paulada, chute, pano de facão, “até de chapéu de couro... também xingaram muito a gente. Tudo pra gente entregar onde estavam as outras lideranças que eles estavam procurando”.

Ele conta que os jagunços chegaram de uma vez. A maior parte da comunidade conseguiu fugir para o mato porque foram avisados minutos antes que eles estavam "descendo pra aldeia”. “Seu” Astério, “seu” Preto, de 73 anos,Robinho, “dona” Eliete, 45 anos, e uma mulher, mãe de duas crianças (uma de cinco anos e outra de sete meses) não conseguiram correr a tempo. 

Continuam o relato, afirmando que com armas apontadas para as suas cabeças, os jagunços portavam pistola 765, espingardas 44 e 12, rifle calibre 38, pistola 380, facão na cintura e até dois fuzis “que talvez sejam R15”. “Eram 18 jagunços e não tinha nenhum desarmado”, afirma Astério, ainda sentindo as fortes dores na perna esquerda, no dorso e na região abdominal. 
Também com vários hematomas no corpo, principalmente nas costas e braços, Eliete de Jesus Queiroz relata que levou um tapa tão forte no ouvido esquerdo que quatro dias depois do atentado ainda sente tonturas e muita dor. “Eles chegaram a ameaçar que iam estuprar nós. Nossa sorte é que, depois que viram as crianças, eles pararam de bater em nós duas. Mas as crianças ficaram traumatizadas e logo depois o menino vomitou bastante”, relata. Seu Preto, considerado um ancião, e Robinho também foram vítimas da violência dos jagunços e pistoleiros.

Após usarem 25 litros de gasolina para incendiarem as 28 casas da Patioba, destruindo completamente a aldeia, os jagunços colocaram os indígenas à força dentro de seus carros e os dois ex-policiais os levaram para a delegacia de Itapebi porque – inacreditavelmente – queriam denunciá-los pelo porte de uma espingarda velha usada para caçar tatu, paca, gavião, “mas que nem prestar muito tava prestando mais, porque tava sem espoleta”, conta Astério.

Como o delegado não estava, foram levados para o município de Eunápolis. Mas o delegado local não quis recebê-los, pois se tratava de um fato da jurisdição de Itapebi, para onde voltaram e registraram um boletim de ocorrência, onde os indígenas aproveitaram e relataram toda a barbárie a que haviam sido submetidos. No entanto, absolutamente nada aconteceu com os jagunços. Como mencionado nesta matéria, dois deles são ex-policiais. Somente por volta das 19h, os Tupinambá foram liberados – dos jagunços e pela delegacia. 

A Polícia Federal, de Porto Seguro, e a Fundação Nacional do Índio (Funai) foram informadas sobre as extremas violências e violações a que foram submetidos os Tupinambá, mas até o fechamento desta matéria ainda não tinham ido à aldeia da Patioba, segundo os indígenas.
Na segunda-feira (10), Eliete e Astério, após apresentarem denúncia no Ministério Público Federal (MPF), fizeram exame de corpo delito no Instituto Médico Legal (IML) de Brasília. Na terça, após atendimento médico em hospitais, fizeram a denúncia ao Ministério da Justiça e na manhã desta quarta-feira (12) denunciam a barbárie a que foram submetidos ao Procurador Geral da República (PGR), Rodrigo Janot. À tarde fazem o mesmo na Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. 

Não se trata de uma mera coincidência 

Cabe aqui ressaltar que a reunião na PGR havia sido agendada antes deste atentado ter acontecido na aldeia Patioba. Solicitada por organizações indígenas e indigenistas, a proposta é justamente denunciar a crescente violência contra os povos indígenas em várias regiões do Brasil e associá-la a políticos da bancada ruralista que vêm incitando esta violência. Em fevereiro, estas organizações entraram com uma representação na PGR contra os deputados federais Luiz Carlos Heinze (PP-RS) e Alceu Moreira (PMDB-RS) por terem feito afirmações, gravadas em vídeo e veiculadas amplamente nas redes sociais, carregadas de preconceitos e incentivos à violência como solução para os conflitos agrários com os indígenas.

Inimigos mais que conhecidos

“O que a gente percebe é que falta vontade mesmo do governo e da polícia de fazer justiça. Aqui, não precisa investigar nada. A gente sabe quem foi que fez isso com o nosso povo. Eles não se escondem. O próprio José Gastão falou pra gente a lista das pessoas que eles querem matar”, afirma José Moreira Campos, o Juquira, uma das lideranças indígenas ameaçadas de morte, que não estava na Patioba quando os jagunços chegaram.

De acordo com os depoimentos feitos pelos Tupinambá ao MPF e na PGR, os dois ex-policiais, que também são fazendeiros, Gilmar (cujo verdadeiro nome seria Teodomiro) e José Maciel estavam entre os jagunços e, inclusive, foram os que os levaram para as delegacias. Outros responsáveis pela barbárie apontados pelos indígenas aos órgãos federais são o fazendeiro Peba, Juarez da Silva Oliveira, ex vereador e candidato derrotado do PP à prefeitura de Itapebi na última eleição, e o gerente da fazenda Lombardia, José Gastão. Após a invasão e destruição da aldeia, de acordo com os Tupinambá, a grande maioria dos jagunços se encaminhou para a fazenda Condomínio. “Nós vimos eles entrando na fazenda”, afirma Astério.

Além de Juquira e Astério, outros cinco Tupinambá da aldeia Patioba estão ameaçados de morte: o cacique Roberto, o vice cacique Carlos, o ex cacique Jovenal, a liderança Adauto e Jefinho, filho de uma liderança. Juquira conta que eles precisam se retirar da aldeia de tempos em tempos e vivem sempre preocupados com a possibilidade de que as promessas de morte sejam cumpridas. “Eles querem nos matar porque sabem que a gente não vai sair da terra que é nossa. Meu bisavô morreu aqui, meu avô morreu aqui, meu tio morreu aqui. Os parentes da Eliete morreram aqui. Só que a gente não tinha documento da terra. Índio não tinha mesmo documento da terra, mas nós não vamos negociar a nossa terra”, garante Astério.

A disputa pela terra

Segundo Astério, Juquira e Eliete, o governo federal e a Funai têm uma grande responsabilidade sobre as violências e violações contra os Tupinambá porque não fazem nada em relação à área reivindicada pelo povo como tradicional. “A Funai foi lá em 2005, 2006. Mas é só promessa. Daí, os fazendeiros vão se apossando de terra que é terra indígena e do Estado, vão nos ameaçando e nos matando. O ancião Salomão foi assassinado na Aldeia Patioba há cinco anos, e isso fez com que muitos de nós ficassem com medo e desistissem da terra”, rememora Astério.

Os três moravam desde 2002 na aldeia Vereme, mas tiveram que deixar a área por conta de uma reintegração de posse realizada em 2012. “Chegaram a usar até os sem terra contra a gente. Mas depois o fazendeiro da São Brás, mesmo dono da fazenda Lombardia, entrou com liminar contra eles também”, conta Juquira.

Após as 35 famílias saírem escoltadas da área pela Polícia Militar e pela Funai, parte da aldeia se dispersou. Apenas alguns foram para a aldeia Patioba, localizada há seis km de distância. A família de Astério e mais duas ficaram por seis meses dentro da sede da Funai e, posteriormente, foram encaminhadas pela própria Funai também para Patioba.

De acordo com Astério, o dono das fazendas São Brás e Lombardia se considera dono da área de três alqueires que os Tupinambá ocupam – tanto na extinta aldeia Vereme como na recém destruída Encanto da Patioba, que contava com 31 famílias. “Esta terra está, inclusive, penhorada há mais de 30 anos. Acho que pelo Banco do Brasil”, afirma o cacique.

Método antigo: a violência

O aumento da violência contra os povos indígenas na Bahia é evidente e remete aos tempos da ditadura e ao auge do coronelismo no estado, ocorrido nas décadas de 1970 e 1980.

Segundo os Tupinambá de Olivença, que moram na região de Buerarema e Ilhéus, desde o início deste ano, vários indígenas foram mortos. Três jovens morreram depois da implantação de uma base do Exército dentro da área já identificada como território tradicionalmente indígena em fevereiro. “Nós não queremos o Exército em nossa terra. Eles nos tratam como bandidos. O que precisa ser feito é a demarcação de nossa terra para que possamos viver em paz”, afirmou ontem a cacique Valdelice, da Terra Indígena Tupinambá de Olivença, em reunião no Ministério da Justiça. 

Na área da aldeia Patioba, o mais recente ataque havia ocorrido apenas há cerca de 15 dias, quando o carro de um dos indígenas deixado no porto em Itapebi foi incendiado. 

Sem casa, suas roças e animais, móveis, roupas, comida e, muitos sem documento, desde o dia 7 de março, os parentes de “Seu” Astério, “dona” Eliete e Juquira dispersaram-se em Eunápolis. “Somos indígenas, mas agora estamos como indigentes”, concluiu com tristeza o cacique. 

Apesar de viverem no estado onde os colonizadores portugueses chegaram há 514 anos e terem seu histórico, modo de vida e incontáveis processos de resistência registrados em extensa bibliografia, o povo Tupinambá não tem ainda terras homologadas na Bahia. “Até quando será assim?", parecia a pergunta nos olhos pequenos e sofridos de “seu”Astério.

Tentativa de Golpe na Venezuela

Relato de Vanessa Aguiar Borges da Brigada Apolônio de Carvalho / MST

Tento aqui, nestas linhas escrever as minhas impressões vividas nestes meses de Venezuela, em especial acerca dos acontecimentos do ultimo mês.

Desde o dia 12 de fevereiro, o país se vê assaltado por ações violentas orquestradas pela direita venezuelana e protagonizada por parte de uma juventude de classe média e média alta com interferência direta de grupos da ultra direita organizada.

12 de fevereiro é o Dia da Juventude para os Venezuelanos. Esta data está ligada ao processo de independência, quando em 1814 jovens foram para a frente de batalha defender a independência e a recém criada república. Então, este seria o ano do Bicentenário desta batalha. No dia anterior, dia 11, foi divulgada uma gravação entre dois conhecidos opositores em que discutiam a ação violenta que aconteceria no dia seguinte, com o intuito de repetir os feitos 11 de abril de 2002, ou seja, declararam a tentativa de golpe de estado. De fato, dia 12, após uma marcha liderada pelo opositor Leopoldo Lópes, um grupo de encapuzados depredou deliberadamente, a luz do dia a sede do Ministério Público e a praça onde fica localizado. Queimaram cinco carros da polícia. Duas pessoas morreram e outras tantas feridas. Deste dia em diante, as ações violentas se concentraram em vários prédios públicos e em ruas e praças de bairros de classe média e classe média alta, além de ônibus e do metro de Caracas. Ao todo, somam 25 mortos, dentre eles, vários policiais mortos a bala. Outros são motoqueiros que caem nas armadilhas montadas nas guarimbas (espécie de barricada montada nas ruas e avenidas dos bairros de classe média de Caracas e outras cidades) ou que caem em enormes buracos deixados pela retirada das tampas de proteção da rede de escoamento de água; pessoas que tentam desfazer as guarimbas para passarem com seus veículos; chavistas que passaram desavisados pelas guaribas; e alguns devido a ação da polícia. Os guarimbeiros constroem armadilhas com arame farpado e pregos na altura do pescoço de um motoqueiro. Muitos foram degolados ao tentarem passar pelas guarimbas montadas. Outros foram acertados por franco atiradores ao tentarem abrir caminho para passarem com seus carros.

Bom, isso se espalhou, inicialmente por 18 municípios do país, TODOS governados por prefeitos da oposição (coincidência não!?). E em nenhum desses municípios a polícia local fez nada para desfazer as guarimbas, e em alguns casos, havia até mesmo colaboração de policiais municipais. Esta semana, dia 12 de março, havia novamente um chamado de toda a oposição para ir à “luta” contra o governo. Uma nova tentativa de golpe. Agem por dois lados: fazem marchas de estudantes, e pessoas da classe média (bem interessante: todos brancos, bem vestidos, com cara e cheiro de classe média falida!), pacificas com caçarolas na mão, sem discursos (não têm lideranças), reclamando da escassez de alimentos e outros produtos básicos, corrupção e interferência de Cuba. Enquanto isso outros grupos atuam nas guarimbas, destroem a cidade, retirando placas, postes, pontos de ônibus, tampas de esgotos para construírem suas guarimbas! Colocam fogo no lixo que recolhem e acumulam, em pneus, lançam conquetel molotov. Agora estão roubando materiais de construção de obras públicas ou de obras privadas, em alguns casos com a colaboração da empreiteira. Fazem isso no próprio bairro onde moram. Em algumas cidades o transito fica caótico pelo trancamento das vias. A GNB (Guarda Nacional Bolivariana) tem intervido com balas de borracha e gás lacrimogênio. Assim, a mídia golpista usa as imagens das marchas pacificas e da atuação da GNB contra os guarimbeiros e diz: na Venezuela o governo reprime manifestações pacificas! Basta sair por alguns municípios da grande Caracas, ou Barquissimeto, ou Mérida, ou Valencia pra ver a sujeira que os bairros de classe média se encontram e as guarimbas ali, ou montadas para usarem a noite, ou queimadas do dia anterior.

Mas essas ações não atingem as áreas populares, nem dos centros das cidades nem nos bairros. Os chavistas estão mobilizados. Marchas, comícios, festas, acontecem todos os dias. São atos políticos, muitas vezes com a presença do presidente Maduro e de representantes do governo. São marchas coloridas, alegres, com musica, criança, barulho, bem típico da alegria do povo venezuelano. Essas ações da direita (entendi porque os chamam de facista) ocasionou uma maior mobilização dos setores populares em defesa do governo, e mais, da Revolução. O povo tá em luta, nas ruas, nas praças, nos seus locais de vida e trabalho. Se fala de política em todos os lugares: nos pontos de ônibus, na fila do mercado ou do banco, e até mesmo nos bares!!! A tentativa de golpe da direta se mostra cada vez mais enfraquecida. Setores menos radicais da oposição já se colocam contra essas ações. As famílias opositoras que vivem nesses bairros de classe média também estão se cansando. Mas o MUD (Mesa Unitária Democrática), a articulação partidária da direita fascista, não se dispõe ao diálogo com o governo. Impões condições: libertar todos os presos (desde o Leopoldo Lopes, que dirigiu as ações de 12 de fevereiro, os vândalos que quebraram desde a empresa de comunicação do governo em vários estados, o Ministério Público, O Ministério de Viviendas, dezenas de ruas, pontos de ônibus e todo tipo de estrutura publica nas ruas, até os que foram identificados e presos por homicídio de policiais), cessar com a “repressão” da GNB às “manifestações”, fim do controle cambial e da regulação de preços de mercadorias. Isso pra começar o diálogo! Ou seja.... O que se passa em Venezuela é uma manipulação de jovens e desta classe média conservadora na tentativa direta de um golpe por desestabilização social, o que acarretaria uma necessária intervenção dos EUA para reestabelecer a paz. Mas eles contavam com uma reação também violente do chavismo, dos movimentos, coletivos. Contavam de fato que poderia haver uma guerra civil, onde os chavistas e o povo que defende a revolução se enfrentariam diretamente com os fascistas. Mas isso não aconteceu. Eles continuam, todavia, tentando e incitando à violência.

Sabem que a única maneira de frear a Revolução, que tem caráter socialista e que, em seu desenvolvimento e aprofundamento histórico, pretende derrocar com toda a estrutura social, política e econômica do capital, é destituindo o governo, democrático eleito e reconhecido. Caso não consigam a tempo, pode de fato ser tarde demais, na medida em que a implantação do Estado Comunal já tem seus primeiros passos em terra com a construção, hoje de mais de mil comunas por todo o pais, urbanas e campesinas.

Como diz em alto e bom tom o povo venezuelano por todos os lados deste lindo país: NO VOLVERAN!!!

Vanessa Aguiar Borges – MST – Brigada Apolônio de Carvalho - Venezuela - 15 de março de 2014

segunda-feira, 17 de março de 2014

Carta Final da Marcha em apoio aos Tupinambá de Olivença: “Diga ao povo que avance: Avançaremos!”

Alimentados pela energia que brota do solo sagrado do povo Tupinambá e orientados pelos seus Encantados, que habitam a enorme e mística serra que protege a Aldeia da Serra do Padeiro, os cerca de 400 participantes, representando mais de 40 Entidades do Brasil, América Latina e Europa, presentes na Marcha dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica, que teve como tema: “Em defesa das terras sagradas dos Tupinambá”, realizada no período de 14 a 16 de março de 2014, aprendemos com o povo Tupinambá que é preciso “resistir para existir”, portanto subscrevemos esta carta e para tanto:

Reafirmamos:

- E continuamos assumindo os compromissos das jornadas agroecológicas da Bahia;

- O desejo da ampliação da Teia de Agroecologia como espaço de lutas conjuntas e de solidariedade entre campo e cidade;

- Repudiamos:

- A postura mais uma vez de submissão do governo brasileiro e do governo do estado da Bahia ao agro e hidro negócios, a Bancada Ruralista e a Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Através da não regularização das terras indígenas e quilombolas e impedindo reforma agrária. Comercializando a biodiversidade, em especial a terra e água elementos sagrados para os povos tradicionais e originais em simples mercadoria ou moeda de troca para seus interesses;

- A postura irresponsável e criminosa de diversos veículos da mídia regional e nacional a exemplo da Rede Bandeirante na criminalização das lutas dos movimentos sociais e povos tradicionais e suas lideranças através de material de cunho preconceituoso, incentivando o ódio, o racismo e, consequentemente, ferindo de morte os direitos constitucionais tão duramente conquistados.

- Exigimos:

- A democratização dos meios de comunicação;

- A imediata revisão e até mesmo a suspensão das concessões públicas de sinais de TV, em especial da Rede Bandeirantes e Rede Globo.

- A democratização da terra, com reforma agrária já e as regularizações imediatas das terras indígenas e quilombolas;

-Um basta no processo de criminalização das lutas e das lideranças;

- Solicitamos:

- Do Conselho de Segurança Alimentar (Consea) que exija dos governos estadual e federal a regularização dos territórios indígenas da Bahia, em especial o T. I. Tupinambá de Olivença que atualmente passa por um intenso processo de violação de diretos, pois entendemos que a verdadeira segurança e soberania alimentar destes povos só acontecerá quando houver a regularização de suas terras para que possam construir seus projetos de vida.

Convocamos:

- A sociedade brasileira a se indignar com a ordem estabelecida, que gera violência, insegurança, contra a cultura do medo, contra a continuidade dos saques às riquezas do povo brasileiro, ao mesmo tempo percebemos que é preciso romper o isolamentos de muitas lutas e nos somarmos num grande mutirão na busca por cidadania e dignidade, construindo uma unidade na luta a partir das experiências enraizadas a partir das bases e, assim, avançarmos para uma NOVA SOCIEDADE POSSÍVEL, ou como nos ensina o povo Guarani: CONQUISTARMOS A NOSSA TERRA SEM MALES.

Fortalecidos e Fortalecidas pela farinhada coletiva, ansiosos e ansiosas na germinação das sementes de milho e cacau orgânico plantados em mutirão e esperançosos e esperançosas no crescimento do nosso pé de Baobá plantado neste solo sagrado, ousamos dizer: “Diga ao povo que avance: AVANÇAREMOS!”

Serra do Padeiro, Terra Sagrada dos Tupinambá, 16 de março de 2014.

Assinam as Entidades presentes:

Associação de Advogados dos Trabalhadores Rurais (AATR), Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Extremo Sul (CEPEDES), Movimento de Luta pela Terra (MLT), Movimento Trabalhadores Sem Terra (MST), Casa de Economia Solidaria (CES), Associação de Moradores da Beira Rio e Represa, Associação de Moradores do Bairro Novo Serra Grande, Conselho de Cidadania Permanente, OCA – Centro de Agroecologia e Educação da Mata Atlântica, Movimento Nacional de Juventude, Núcleo de Estudos, Prática e Políticas Agrárias (NEPPA), Grupo de Ação Interdisciplinar e Macroecologia (GAIA), Núcleo Akofena, Coletivo de Cinema Negro, Frente de Trabalhadores Livres (FTL), Movimento das Comunidades Populares (MCP), Jornal Voz das Comunidades (JVC), Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Tempo Ecoarte, Levante Popular da Juventude, Escola Agrícola Comunitária Margarida Alves (EACMA), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Comissão Pastora da Terra (CPT), Movimento Negro Unificado (MNU), Rede Mocambos, Movimento dos Acampados, Assentados e Quilombolas da Bahia (CETA), Teia Agroecológica, Frente Ampla dos Estudantes (FAE), Federação dos Órgãos para Assistência e Educação Social (FASE), Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Movimento do Projeto Popular (MPP), Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (MUPOIBA), Frente Indígena das Nações Pataxó e Tupinambá do Extremo sul da Bahia (FINPAT), Frente de Resistência Pataxó, Comissão de Organização das Mulheres Indígenas do Sul da Bahia (COMISULBA), Fórum de Educação Indígena da Bahia (Forumeiba). Povos indígenas: Pataxó Hã-Hã-Hãe, Tupinambá e Pataxó, Quilombolas, Assentados, Acampados, Estudantes.