quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

O problema da falta d'água em Itabuna

Escassez dos recursos hídricos?

Problemas climáticos?

Falta de gestão pública?

Falta de investimento?

Falta de consciência da população?
 
Poluição?
 
 



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domingo, 29 de novembro de 2015

Cineclube Mocamba lança documentário sobre manejo agroecológico do cacau na Bahia "UMA PALHINHA DO SABER: como nasce um cacau agroecológico"


Na região cacaueira do Sul da Bahia a produção de mudas feitas a partir de sementes do cacaueiro pelo agricultor é uma prática muito utilizada para substituir plantas velhas e recuperar a produção do agroecossistema cacau-cabruca. Todavia, o agricultor enfrenta problemas, como a perda de mudas, que é causada, principalmente, por danos na planta no momento do plantio (perda de torrão) e por períodos irregulares de estiagem; que dificultam a atividade e exigem dele muita criatividade e persistência. 

Este vídeo, produto do Curso de Especialização em Agroecologia aplicada à Agricultura Familiar - Residência Agrária, da Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC / BA, procura mostrar a inovação de uma tecnologia de produção de mudas de cacaueiro desenvolvida por um agricultor familiar do município de Almadina – Bahia, que utiliza como embalagem a palha da bananeira. Esta tecnologia pode ser adaptada para diversas culturas e realidades e é, sem dúvida, viável para outros agricultores que buscam a via da Agroecologia!
 
O documentário com 14 minutos foi filmado no município de Almadina, Território Litoral Sul e toda sua produção foi realizada pela equipe do Cineclube Mocamba em parceria com a UESC.

Ficha Técnica:
PRODUÇÃO: ELAINE MARTINS E CLÁUDIO LYRIO
DIREÇÃO: CLÁUDIO LYRIO
ROTEIRO: ELAINE MARTINS
ASSISTENTE DE PRODUÇÃO: ELBERT ALMEIDA
IMAGENS: CLÁUDIO LYRIO E ELAINE MARTINS
EDIÇÃO E FINALIZAÇÃO: MAXWELL FIDELIS
COMPUTAÇÃO GRÁFICA: ALISSON SENNA
SUPERVISÃO GERAL: ELAINE MARTINS
ORIENTAÇÃO: JORGE CHIAPETTI

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

CARTA DA TEIA DOS POVOS


Com o lema: Terra, Território e Poder, nós militantes da Teia dos Povos, nos reunimos entre os dias 29/10 e 01/11/2015 no Assentamento Terra Vista, no Município de Arataca, Estado da Bahia, para realizarmos a IV Jornada de Agroecologia e reafirmarmos o nosso compromisso com a defesa dos direitos, da vida e da transformação social, ao mesmo tempo que repudiamos a democracia burguesa e todas as formas de enganação política e moral que levam a crer que há soluções justas dentro do capitalismo.

Diante das diferentes crises proporcionadas pelo capitalismo que afrontam e põem em risco a vida de todas as espécies no planeta, viemos, com urgência, convidar todas as forças comprometidas com a ética, a justiça e a dignidade, para lutarmos juntos contra a exploração do trabalho humano, a devastação da natureza, o envenenamento e a intoxicação dos organismos vivos e, a favor de um projeto popular de poder, que envolva, em uma ampla teia democrática e pluriétnica, mulheres, homens, jovens e crianças na busca pela emancipação social e humana.

Constatamos que a situação de calamidade que se encontram os corpos d'água brasileiros em todas as regiões do Brasil, não têm como causa as crises climáticas, mas na ganância dos capitalistas que encontram, nos bens da natureza, o último recurso para acumularem riquezas. Para além disso, denunciamos que a causa maior da violência contra as águas têm suporte político, jurídico e militar do governo conivente e colaborador das forças dominantes e dirigentes do País.

Exigimos do governo Brasileiro a imediata realização da reforma agrária, a demarcação dos territórios indígenas e áreas de remanescentes de quilombos, o cumprimento das legislações no que se refere à educação dos povos do campo, das águas e das florestas, o oferecimento de educação com qualidade para toda a classe trabalhadora e a interrupção imediata do fechamento das escolas do campo e da cidade, bem como, que o Congresso Nacional suspenda todos os projetos de lei criminosos que afrontam o direito ao território próprio dos povos indígenas, negros e trabalhadores em geral.

Declaramos que, enquanto índios, negros, camponeses, lutadores e lutadoras sociais, não temos mais espaço neste modo de produção que prioriza a acumulação, por meio da produção de mercadorias, para satisfazer aos geradores de violência que concentram a renda e as decisões políticas sobre o destino da humanidade, por isso, convidamos o povo à rebelião geral, pela defesa da vida, da soberania e da dignidade.

Saudamos com as nossas experiências e comemoramos os avanços alcançados na construção de projetos agroecológicos de iniciativa popular que visam a construção de uma sociedade Socialista. Nos colocamos à disposição da luta em prol de uma educação crítica e libertadora, da conscientização da classe trabalhadora, povos e comunidades tradicionais e da implantação de soluções que se oponham ao esforço devastador do capital.

Nos comprometemos a lutar contra a exploração da terra, das águas, das espécies da natureza e dos seres humanos, ao mesmo tempo que convocamos todos os seres de luz e encantados, para fortalecer nossa ancestralidade e caminharmos juntos na reconstrução do “Bem Viver”.

Nos somamos a quem luta e resiste contra o assalto aos direitos sociais que o governo vem implementando, que faz penar os trabalhadores, aumentar a violência e leva a sociedade ao retrocesso e à barbárie, ao mesmo tempo que, convidamos para lançar-nos ao trabalho de base, no plantio de novas sementes naturais e organizativas para resgatarmos a esperança, a indignação e a coragem de traçarmos o nosso próprio destino em direção à nova sociedade.

Juntos construiremos uma sociedade justa, fraterna e solidária.

Vida longa à Teia do Povos!
  Diga ao povo que avance! Avançaremos!
 

IV Jornada de agrooecología de Bahía teve cobertuta da TeleSUR Brasil

La cuarta jornada del encuentro de agroecología se llevó a cabo en Bahía, estado de Brasil. Los más de dos mil delegados de pueblos originarios debatieron temas como el poder y la propiedad de la tierra, así como la soberanía alimentaria.
Este jueves dio inicio la IV Jornada de Agroecología de Bahía, Brasil, organizado por el movimiento campesino de esta región. Este evento, que se extenderá hasta este 1 de noviembre, reúne a los campesinos del país para debatir estrategias del desarrollo de la agricultura familiar y libre de pesticidas.
La agroecología plantea propuestas de manejo agrario y desarrollo rural basadas en la sostenibilidad social y ecológica, contrarias al agronegocio defendido por grandes transnacionales del capital en detrimento de la salud humana y la Madre Tierra. 

 Este contenido ha sido publicado originalmente por teleSUR bajo la siguiente dirección: 
 http://www.telesurtv.net/telesuragenda/Agroecologia-20151028-0033.html. Si piensa hacer uso del mismo, por favor, cite la fuente y coloque un enlace hacia la nota original de donde usted ha tomado este contenido. www.teleSURtv.net
La agroecología plantea propuestas de manejo agrario y desarrollo rural basadas en la sostenibilidad social y ecológica, contrarias al agronegocio defendido por grandes transnacionales del capital en detrimento de la salud humana y la Madre Tierra. 

Participantes en un seminario regional realizado en Brasilia en junio pasado coincidieron en que la agroecología debe convertirse en una parte importante de las estrategias de erradicación del hambre en los países de América Latina y el Caribe.

El evento destacó entonces que la agroecología permite el desarrollo sostenible de la agricultura, el avance hacia sistemas alimentarios inclusivos y eficientes, y promueve el círculo virtuoso entre la producción de alimentos saludables y la protección de los recursos naturales.

Lea también: China y FAO firman acuerdo para promover agricultura sostenible

A partir de este 29 de octubre, el gigante suramericano vuelve a ser escenario de un encuentro relacionado con ese tema, en este caso la IV Jornada de Agroecología de Bahía, que hasta el 1 de noviembre se constituye como un espacio para el diálogo, la formación, la coordinación y el intercambio de experiencias entre sus participantes, según expresa la web del evento. 

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adicación del hambre en los países de América Latina y el Caribe.

El evento destacó entonces que la agroecología permite el desarrollo sostenible de la agricultura, el avance hacia sistemas alimentarios inclusivos y eficientes, y promueve el círculo virtuoso entre la producción de alimentos saludables y la protección de los recursos naturales.

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A partir de este 29 de octubre, el gigante suramericano vuelve a ser escenario de un encuentro relacionado con ese tema, en este caso la IV Jornada de Agroecología de Bahía, que hasta el 1 de noviembre se constituye como un espacio para el diálogo, la formación, la coordinación y el intercambio de experiencias entre sus participantes, según expresa la web del evento. 

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La agroecología plantea propuestas de manejo agrario y desarrollo rural basadas en la sostenibilidad social y ecológica, contrarias al agronegocio defendido por grandes transnacionales del capital en detrimento de la salud humana y la Madre Tierra. 

Participantes en un seminario regional realizado en Brasilia en junio pasado coincidieron en que la agroecología debe convertirse en una parte importante de las estrategias de erradicación del hambre en los países de América Latina y el Caribe.

El evento destacó entonces que la agroecología permite el desarrollo sostenible de la agricultura, el avance hacia sistemas alimentarios inclusivos y eficientes, y promueve el círculo virtuoso entre la producción de alimentos saludables y la protección de los recursos naturales.

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A partir de este 29 de octubre, el gigante suramericano vuelve a ser escenario de un encuentro relacionado con ese tema, en este caso la IV Jornada de Agroecología de Bahía, que hasta el 1 de noviembre se constituye como un espacio para el diálogo, la formación, la coordinación y el intercambio de experiencias entre sus participantes, según expresa la web del evento

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La agroecología plantea propuestas de manejo agrario y desarrollo rural basadas en la sostenibilidad social y ecológica, contrarias al agronegocio defendido por grandes transnacionales del capital en detrimento de la salud humana y la Madre Tierra. 

Participantes en un seminario regional realizado en Brasilia en junio pasado coincidieron en que la agroecología debe convertirse en una parte importante de las estrategias de erradicación del hambre en los países de América Latina y el Caribe.

El evento destacó entonces que la agroecología permite el desarrollo sostenible de la agricultura, el avance hacia sistemas alimentarios inclusivos y eficientes, y promueve el círculo virtuoso entre la producción de alimentos saludables y la protección de los recursos naturales.

Lea también: China y FAO firman acuerdo para promover agricultura sostenible

A partir de este 29 de octubre, el gigante suramericano vuelve a ser escenario de un encuentro relacionado con ese tema, en este caso la IV Jornada de Agroecología de Bahía, que hasta el 1 de noviembre se constituye como un espacio para el diálogo, la formación, la coordinación y el intercambio de experiencias entre sus participantes, según expresa la web del evento

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La agroecología en América Latina contra el poder de Monsanto

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La agroecología en América Latina contra el poder de Monsanto

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La agroecología en América Latina contra el poder de Monsanto

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quinta-feira, 6 de agosto de 2015

FASE Bahia 2015 Jovens gerando renda na Agricultura Familiaro na Bahia

Este vídeo registra aspectos da intervenção educativa da FASE Bahia, em 7 municípios do Vale do Jiquiriçá, e do Baixo Sul, através do Projeto "Jovens gerando renda na Agricultura Familiar", desenvolvido entre 2013 e 2015.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Comunidades impactadas pela Fiol realizam encontros para reivindicar direitos

Trecho da Ferrovia Oeste Leste (Fiol) vem impactando diretamente inúmeras comunidades no estado da Bahia, principalmente no município de Caetité, como é o caso de Curral Velho e Serragem.
(Por CPT Bahia)

Entre os impactos sofridos pelos moradores estão destruição de suas residências, como rachaduras nas paredes, destruição dos telhados, prejuízos e interrupção de áreas agrícolas e destruição e interrupção de estradas de acesso.

Diante desse cenário, foi realizada uma série de mobilizações no município. A comunidade de Serragem conseguiu no mês de março uma reunião com o poder público local e com representantes da Fiol e das empresas responsáveis pelo consórcio, que se comprometeram a revitalizar as estradas de acesso da comunidade que foram danificadas com a obra.

Já a comunidade de Curral Velho conseguiu uma reunião com o Ministério Público Federal (MPF) junto aos representantes da Valec e Consórcio (PAVOTEC). No encontro, apresentaram um levantamento dos impactos provocados pelo trecho da Fiol e denunciaram a situação na qual se encontram os moradores. Outra reunião foi marcada entre os moradores e representantes do Consórcio (PAVOTEC) para esse mês, quando serão negociadas as reivindicações da comunidade.

A organização da comunidade garantiu o encaminhamento de diversas solicitações registradas e entregues ao MPF, como o fim do trabalho noturno das obras, que tem prejudicado a população; reparação e indenização das casas ao término da obra; intensificação da molhagem das estradas; aviso com carro de som sobre os horários de detonações de explosivos; e aluguel social para os moradores que tiveram suas casas destruídas, enquanto uma nova residência não é entregue.

Para as famílias das comunidades, as conquistas obtidas são resultado da luta organizada e da mobilização, diante da falta de planejamento e preparo das empresas responsáveis pela obra, que colocaram em risco constante as populações.

RUMO AO IV CONGRESSO NACIONAL DA CPT


 Faz escuro, mas eu canto
Memória, rebeldia e esperança dos pobres do campo

Animados e animadas por esse lema, os agentes da CPT de todo o país, trabalhadores, trabalhadoras, quilombolas, indígenas, povos do campo, das águas e das florestas, irão se encontrar de 12 a 17 de julho de 2015, na cidade de Porto Velho, em Rondônia, para o IV Congresso Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

A CPT surgiu em 1975, fruto da indignação de pessoas ligadas à igreja, diante da violação dos direitos de povos indígenas e de comunidades de posseiros que tinham seus territórios invadidos por grandes empresas que se estabeleciam na Amazônia, com o apoio e estímulo dos governos militares, que concediam a elas fartos incentivos fiscais para ali se estabelecerem. E se estabeleciam com a exploração do trabalho de milhares de trabalhadores de outras regiões, que foram submetidos a condições semelhantes à de escravos.

Hoje a situação dos homens e mulheres do campo não é melhor do que naquele tempo. Vive-se um período em que poucas luzes se descortinam no horizonte. Mas, a determinação e a garra permanecem. Por isso foi escolhido como tema/lema do IV Congresso da CPT: FAZ ESCURO, MAS EU CANTO, Memória, Rebeldia e Esperança dos pobres do campo.

Os Congressos da CPT

A decisão de realizar Congressos foi tomada na assembleia geral da CPT em 1999, no bojo de um processo de avaliação da Pastoral. Nesta oportunidade estabeleceu-se que os Congressos deveriam definir os grandes eixos da ação da CPT e que a maior parte dos participantes deveria ser de trabalhadores. Os congressos se tornaram o espaço privilegiado para a CPT ouvir os trabalhadores, suas angústias, a pressão que sofrem e também suas conquistas. Ouvir deles também o que pensam da própria CPT, o que dela esperam. Já se realizaram três Congressos. O primeiro em Bom Jesus da Lapa, Bahia, em 2001, o segundo, em 2005, na Cidade de Goiás e o terceiro, em Montes Claros, Minas Gerais, em 2010.

Os Congressos anteriores:

I Congresso
Tema/lema: “Terra, Água, Direitos: Eis o Tempo Jubilar”.
Data: 28 de maio a 1 de junho de 2001.
Local: Santuário de Bom Jesus da Lapa, em Bom Jesus da Lapa, BA.
Contexto: Concluía-se o Jubileu 2000, que celebrou os 2000 anos do nascimento de Jesus.

Celebravam-se os 25 anos da CPT.

Bom Jesus da Lapa situa-se no Nordeste, onde se concentra a maior proporção de trabalhadores do campo do país, 46%.

No Santuário do Bom Jesus, em 1977, 120 lavradores lá se encontraram pedindo forças para sua luta contra a grilagem de suas terras. Desde então, lá todos os anos se realiza a Romaria da Terra.

Destaques do I Congresso:
- Alguns definiram o congresso como um “renascimento”, “refundação” da CPT. Um “novo Pentecostes”.

- Chegou-se a dizer que “o Congresso salva a CPT”. E até – mais realista – que “os trabalhadores salvaram o Congresso”.

- Os trabalhadores cobraram uma CPT mais presente e solidária, mais de luta e menos burocrática. Exigiram agentes mais apaixonados pela CPT, sua missão, seu trabalho.

- A terra foi vista como espaço de vida e de valorização das raízes afro-ameríndias, mais do que meio de produção.

- Neste Congresso consolidou-se a água com um dos grandes eixos do trabalho da CPT.
Em relação aos direitos: Direitos se constroem, não são só os que se tornaram lei.

II Congresso
Tema/lema: “Fidelidade ao Deus dos Pobres, a serviço dos povos da Terra”.
Data: 14 a 18 de junho de 2005.
Local: Cidade de Goiás, Goiás.
Contexto: A Diocese assumiu, desde o primeiro momento, a Pastoral da Terra. O município da Cidade de Goiás tinha 22 assentamentos.

Em 12 de fevereiro, Irmã Dorothy Stang havia sido assassinada, em Anapu (PA). Por isso foi proclamada patrona do Congresso.

Em nível nacional vivia-se a crise política provocada pelas denúncias do mensalão.

Em nível de Igreja iniciava-se o pontificado de Bento XVI, depois da morte de João Paulo II.

Destaques do II Congresso:
- O Congresso reforçou a confiança do povo do campo na CPT e a identidade da CPT como pastoral de serviço aos mais pobres do campo, e reafirmou o trabalho de base como a marca que identifica a CPT.

- O Congresso conviveu com a diversidade camponesa explicitada nas experiências apresentadas.

- O II Congresso explicitou o conceito de território, a terra como espaço da vida. A reforma agrária, além de democratizar a propriedade da terra, deve garantir o direito aos territórios das comunidades que neles vivem.

III Congresso
Tema: Biomas, Territórios e Diversidade Camponesa.
Lema: No Clamor dos Povos da Terra, a Memória e a Resistência em Defesa da Vida.
Data: de 17 a 21 de maio de 2010.
Local: Montes Claros, Minas Gerais.
Contexto: Em pleno semiárido brasileiro, onde a frieza de intermináveis plantações de eucalipto e de pastagens substituem a rica biodiversidade do Cerrado.

A Diocese de Montes Claros completava 100 anos.

Destaques do III Congresso:

O III Congresso reafirmou e assumiu:
- A diversidade camponesa com as diferentes formas de vida e de relacionamento com a terra vividas pelas comunidades. Diversidade que se expressa na autodenominação que cada grupo atribui a si mesmo: quilombolas, ribeirinhos, seringueiros, castanheiros, piaçabeiros, vazanteiros, geraizeiros, catingueiros, ocupantes de fundo de pasto, faxinalenses, quebradeiras de coco, retireiros e mais uma extensa lista. Em todas se sente relação amorosa com a terra.
- A defesa e a conquista do território como elemento constitutivo da luta pela terra. Todas as comunidades tradicionais têm direito aos territórios que ocupam ou dos quais foram violentamente expropriados ao longo da história.
- A luta pela TERRA (planeta). Não é suficiente conquistar a terra, é preciso tratá-la com cuidado e carinho, pois é a nossa casa comum, é a mãe que dá o sustento diário.
- A imperiosa necessidade da reforma agrária. Reforma agrária que incorpore a defesa dos territórios, a convivência com os biomas e a construção de comunidades sustentáveis em contraposição ao conceito de desenvolvimento sustentável, apropriado pelo grande capital.

Animados pela memória dos Congressos anteriores seguimos na construção do nosso IV Congresso, dessa vez de volta ao berço gerador da CPT, a Amazônia.

Rondônia acolherá o IV Congresso
O IV Congresso se realizará na Amazônia, em Porto Velho, RO, em julho de 2015, quando se comemoram 40 anos da CPT. Foram os conflitos na Amazônia, que se avolumavam a cada dia, que levaram a Igreja a constituir uma comissão para interligar, assessorar e dinamizar os trabalhos que diversas dioceses faziam para apoiar os trabalhadores e trabalhadoras do campo que sofriam violências e tinham seus direitos desrespeitados. Em julho de 2015 armaremos nossas tendas em Porto Velho, Rondônia, na Amazônia.

Rondônia é fruto da colonização promovida pela ditadura militar e pela política neoliberal de mercado. Está situada numa das vias de penetração e encruzilhada da Amazônia. Para Rondônia migraram milhares de famílias brasileiras em busca de novas oportunidades de vida: terra, emprego e negócios.

Porém, a ocupação desordenada e caótica teve como resultado a devastação ambiental e o acuamento das comunidades tradicionais. Quilombolas, ribeirinhos e indígenas ainda continuam com boa parte dos seus territórios tradicionais violentados, sem serem reconhecidos e demarcados. Rondônia tem uma das mais altas taxas de deflorestação da Amazônia, estimada entre 30 e 35%. Boa parte destas áreas, desmatadas em poucas décadas, hoje são pastos já degradados, tendo como consequência a destruição de igarapés e nascentes e o assoreamento dos rios.

Esta ocupação foi acompanhada também de uma injusta distribuição de terras agrícolas. O latifúndio ocupa um terço das áreas de produção agrícola, com ocorrências de trabalho escravo, retirada ilegal de madeira e grilagem de terras. O que tem gerado um permanente conflito fundiário. Por isso violência e repressão continuam de forma acentuada até hoje. Para os pequenos agricultores as dificuldades de acesso à educação, saúde, transporte e de sobrevivência no campo tem provocado grande êxodo rural, especialmente da juventude, em direção às cidades, ao exterior ou a novas fronteiras agrícolas do estado de Amazonas e Mato Grosso. Desta forma continua o ciclo de desmatamento e devastação ambiental.

Os ciclos de exploração natural da madeira, da pecuária e dos garimpos de ouro, cassiterita e diamantes, estão sendo rapidamente sucedidos pelos novos projetos de “desenvolvimento”. A construção das usinas hidrelétricas do Madeira, obras emblemáticas do PAC governamental já em fase de conclusão, não deixa de mostrar novos impactos, mazelas e opressão para os operários, ribeirinhos, assentados e populações urbanas. Enquanto isso, avançam rapidamente as monoculturas de arroz, soja, milho e eucalipto, impulsionadas pelas hidrovias e vias de escoamento da produção de grãos destinados à exportação.

Neste contexto:

- Ganham visibilidade as comunidades tradicionais, como os quilombolas e povos indígenas;

- continua a luta por reforma agrária, promovida por diversas organizações camponesas, com teimosos acampamentos e ocupações de terra, enfrentando a inoperância do INCRA e do Terra Legal, a violência, a criminalização de lideranças e a repressão judicial e policial;

- as diversas organizações do campo e da cidade tentam um processo de unificação das lutas;

- forma parte das iniciativas de resistência camponesa e de esperança, a promoção tenaz e decidida da agroecologia, com sistemas de produção agrícola sem uso de veneno e mais adequadas ao bioma amazônico;

- resiste um modelo eclesial ecumênico comprometido com a realidade do povo e dos pobres da terra, formado pelas CEB’s e comunidades evangélicas, que se dedicam a promover a vida humana e a vida natural em todo o esplendor da Criação, e o crescimento do Reino de Deus nesta região privilegiada da Amazônia.

*Setor de Comunicação da Secretaria Nacional da CPT e coordenação do IV Congresso Nacional da CPT.
 

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Educação no Campo, turma de Especialização em Cultura Popular, Arte e Educação do Campo - Resindência Agrária (Turma Irmãos Anicetos) realiza apresentação de trabalhos Residência Agrária de Cultura

Educação do Campo no Ceará

Turma de Especialização em Cultura Popular, Arte e Educação do Campo - Residência Agrária (Turma Irmãos Anicetos)

Universidade Federal do Cariri - UFCA Campus da Agronomia/Crato 

 
Os 35 trabalhos de Conclusão de Curso desenvolvidos durante o curso serão apresentados nos dias 27 e 28 de Fevereiro no Centro de Expansão/Crato - CE.

Confira a programação:

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Dez empresas dominam de 60% a 70% do que consumimos nos mercados

Dez grandes companhias abocanham de 60% a 70% das compras de uma família e tornam o Brasil um dos países com maior nível de concentração.

Da Repórter Brasil

Talvez passe despercebido àqueles que vão ao supermercado que um conjunto pequeno de grandes transnacionais concentra a maior parte das marcas compradas pelos brasileiros. Dez grandes companhias – entre elas Unilever, Nestlé, Procter & Gamble, Kraft e Coca-Cola – abocanham de 60% a 70% das compras de uma família e tornam o Brasil um dos países com maior nível de concentração no mundo. O que sobra do mercado é disputado por cerca de 500 empresas menores, regionais.

Quer um exemplo dessa concentração? Quando um consumidor vai à seção de higiene pessoal de um estabelecimento comercial e pega nas gôndolas um aparelho de barbear Gilette, um pacote de absorventes Tampax e um pacote de fraldas Pampers, ele está comprando três marcas que integram o portfólio da gigante norte-americana Procter & Gamble – que também é dona dos produtos Oral-B, para dentes.


O poder da Unilever

Uma dona de casa vai uma vez por mês ao supermercado fazer as compras para sua família: ela, o marido e duas crianças. Para a cozinha, ela compra Knorr, Maizena, suco Ades e a maionese Hellmann’s. Para a limpeza da casa, sabão em pó Omo e Brilhante. Compra ainda Comfort para lavar a roupa. Passa na área de cosméticos e pega o desodorante Rexona para seu marido, e sabonete Lux para ela. Compra pasta de dente Closeup, a marca preferida da filha.

Quase ao sair do supermercado, o filho liga e diz que quer sorvete. Ela compra picolés Kibon. Todas as marcas adquiridas por ela pertencem à Unilever, que em 2013 foi o maior investidor no mercado publicitário do Brasil, com R$ 4,5 bilhões aplicados. Omo possui 49,1% de participação de mercado em sua categoria, segundo pesquisa do instituto Nielsen em 2012. A Hellmann´s detém mais de 55% do mercado. A Unilever vende cerca de 200 produtos por segundo no Brasil.

Mercado de bebidas

O que o refrigerante Coca-Cola, o energético Powerade, o suco Del Vale, a água Crystal e o chá Matte Leão têm em comum? Eles são marcas da Coca-Cola, que apenas no segmento de refrigerantes detém cerca de 60% do mercado nacional. E sabe quando está um dia de calor e você quer tomar uma cerveja? Há uma grande chance de que ela seja produzida pela Ambev, que concentra cerca de 70% do mercado com produtos como Brahma, Antarctica, Skol e Bohemia. A companhia Brasil Kirin (ex-Schincariol) possui pouco mais de 10%, e o Grupo Petrópolis, cerca de 10%.
Quer um chocolate?

Na hora dos desenhos, uma criança se senta à frente da televisão e pede para a mãe alguma coisa para comer. Uma vez no mês, ela decide trocar as frutas por doces. A mãe então oferece algumas opções: um chocolate Suflair ou um Kit Kat? Um chá Nestea ou um Nescau? Um Chambinho ou iogurte Chandelle? Uma bolacha Tostines ou Negresco? 
No fundo, ele está perguntando à criança qual marca e linha de produtos da Nestlé ela quer, porque todas acima citadas pertencem à gigante suíça.

O segmento de chocolates é concentrado. Em 2012, uma pesquisa do Instituto Mintel mostrou que ele era dominado por três companhias líderes que possuíam 85% do mercado. Kraft liderava ranking, seguida por Nestlé e Garoto (a empresa Garoto pertencia à Nestlé, mas tem posicionamento independente, e ambas somavam 46% de participação). A Kraft foi desmembrada, em 2012, em duas e a operação de guloseimas passou a se chamar Mondelez International.

Empresas brasileiras também concentram mercado

A BRF – nascida da união entre Sadia e Perdigão – é líder em vários segmentos das gôndolas: está presente em 28 das 30 categorias de alimentos perecíveis analisadas pelo instituto Nielsen, como massas, congelados de carne, margarinas e produtos lácteos. A BRF está na mesa de aproximadamente 90% dos 45 milhões de domicílios do Brasil. Ela é responsável por 20% do comércio de aves no mundo. Em pizzas, a empresa detém 52,5% do mercado e 60% do de massas congeladas no país.


Outra empresa brasileira com grande presença na mesa dos brasileiros e de outros países é a JBS, dona de várias marcas conhecidas, como Friboi, Seara, Swift, Maturatta e Cabana Las Lilas. Com essa variedade de produtos e a presença em 22 países de cinco continentes (entre plataformas de produção e escritórios), ela atende mais de 300 mil clientes em 150 nações.


Governo brasileiro incentivou concentração empresarial

Para alguns economistas, tem havido um aumento da presença do Estado na economia brasileira, um movimento que ganhou força no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando o BNDES passou a conceder financiamentos a juros mais baixos para promover as chamadas “campeãs nacionais”.

Nesse caso, foi estimulada a fusão entre as operadoras de telefonia Brasil Telecom e a Oi, e a criação da BRF, fruto da união entre Sadia e Perdigão. Esse movimento de empresas brasileiras mais fortes no exterior cria gigantes, mas não necessariamente essa liderança traz vantagens para os consumidores brasileiros, que continuam com poucas opções quando vão ao supermercado. Será que essa ação do Estado beneficiou o consumidor final?

Em paralelo, as empresas estatais têm ganhado peso. No setor bancário, CEF e Banco do Brasil estão entre as cinco maiores instituições do país, sendo que a Caixa é líder em financiamento habitacional, e o BB, no setor agrícola. Em energia, a Petrobras é a maior empresa do setor, enquanto a Eletrobrás detém a liderança em geração de energia elétrica.

Mas essa concentração de poder nas empresas públicas é diferente das privadas. Um exemplo está no setor de energia, em que a Petrobras tem tido uma política de reajuste dos preços dos combustíveis alinhada à política de inflação do governo federal. Empresas estatais bem administradas poderiam render bons lucros, que se tornariam dividendos para o governo federal, que, por sua vez, com esse dinheiro dos lucros, poderia investir em setores essenciais, como saúde e educação.
 

Sim, je suis Charlie. Mas e quanto ao desprezo francês pelo outro e ódio que ele pode fomentar?

Por Salah H. Khaled Jr.

A disputa pelo capital simbólico da tragédia está em curso. A imprensa está rapidamente se apropriando discursivamente do atentado e consolidando uma imagem como elemento interpretativo do caso: a agressão à liberdade de expressão e, em particular, ao jornalismo. O estandarte está levantado e a campanha está em curso, como se está fosse a grande “lição” a ser extraída do caso: não admitiremos que a liberdade de expressão seja colocada em questão.

Tenho minhas dúvidas. Uma explicação monocausal para um acontecimento tão complexo definitivamente não me satisfaz. A questão não parece se restringir a isso. Ainda que seja cedo demais para estabelecer qualquer conclusão que diga respeito aos motivos por trás do injustificável ataque, é preciso ao menos esboçar os parâmetros necessários para uma análise minimamente responsável.

O fato do atentado ter ocorrido na França e aparentemente ter sido executado por agressores franceses certamente é de alguma relevância para a compreensão do fenômeno. E quando digo isso não escrevo com qualquer intenção de instrumentalização do massacre: não são poucas as manifestações que causam arrepios, indicando que se algo não for feito para “proteger jornalistas” no mundo inteiro a morte das vítimas terá sido em vão. Como se pudesse existir qualquer iniciativa de prevenção e/ou retaliação apta a de algum modo justificar a perda de vidas como um preço aceitável a pagar. É preciso pensar um pouco antes de escrever.

Lentamente começam a surgir interpretações qualificadas do massacre (veja aqui, por exemplo). Não tenho a intenção de revelar a “verdade” sobre o atentado, o que certamente está para além das minhas modestas forças. Também não irei fazer uma análise detalhada do caso ou do histórico dos suspeitos. Quero apenas compartilhar alguns subsídios que me chamam atenção e que podem se mostrar de alguma valia para quem procura uma leitura menos superficial da questão.

Apesar das poucas informações disponíveis, me surpreende que atentados dessa ordem não ocorram com maior frequência na França. E isso não tem relação alguma com a Charlie Hebdo em particular, mas com a própria identidade nacional francesa e com o momento que atravessa a própria França.

Paris é hoje uma cidade visivelmente decadente. A sujeira toma conta das ruas. Mendigos dormem nas calçadas e em alguns locais o cheiro de urina é extremamente forte, como, por exemplo, nos arredores do Centre Pompidou. A cidade está repleta de imigrantes africanos que vendem lembranças para turistas de forma ilegal e são implacavelmente perseguidos pelos policiais quando avistados. Os metrôs estão tomados por vendedores ambulantes e artistas que invadem os vagões e apresentam suas performances na esperança de receber alguns trocados dos passageiros.

Os tempos são difíceis para os franceses: taxas de desemprego batem recordes e o país aparentemente está na contramão de seus principais parceiros europeus. Tudo isso gera enorme inquietação social: milhares de carros foram queimados em protestos na última década. Não é preciso entrar em detalhes. Essas informações estão facilmente disponíveis na internet.

Diante desse contexto, turistas são muitas vezes tratados de forma abertamente hostil: a expressão “turista de merda” é muito popular, particularmente quando há recusa em cair em golpes, como a venda de bilhetes usados de metrô e outros muito mais sofisticados. Os pickpockets afloram, assim como os golpistas de todas as ordens. São comuns os esquemas das mais variadas ordens para iludir estrangeiros, sendo necessário consultar a internet para se assegurar de não cair em um golpe quando visitar Paris. Evidentemente são combatidos pelas autoridades, mas em tempos de crise, os golpistas se multiplicam para além de qualquer possibilidade de controle.

Mas eles não são os únicos problemas: experimente pedir informações em inglês e descubra rapidamente como franceses de todos os estratos sociais podem perder a pose e tratá-lo como um visitante indesejado, apesar da economia francesa precisar desesperadamente do turismo para sobreviver. Por outro lado, arranhe um francês rudimentar e patético e eles provavelmente lhe estenderão a mão com toda simpatia do mundo. A relação com o outro é muito, muito problemática para um país com questões de auto estima por resolver e uma grande crise econômica a superar.

Diante desse contexto, não é por acaso que mais do que nunca os franceses aprofundem sua relação de afetividade com o passado. Qualquer brasileiro se espanta com o espaço que as obras de história ocupam nas livrarias da França, principalmente em comparação com a relativa escassez da literatura jurídica, salvo em livrarias especializadas.

Mas não é uma história geral como a que é estudada no Brasil, por exemplo. Para os franceses, história é essencialmente história da França. São literalmente milhares de obras que retratam um passado glorioso que é devorado por um presente que tem pouco a comemorar. O século XX tem pouco destaque: a humilhação das duas grandes guerras mundiais e o colaboracionismo francês com o Nazismo (muito mais profundo do que os franceses gostariam de admitir) conformam profundas chagas na identidade nacional francesa. Uma identidade que interessa investigar, por sinal.

Diferentemente da tradição alemã, que constrói a identidade desde a perspectiva de um volk (povo) originário e primordial que desfruta de uma história e língua comuns (fundamentalmente com Herder e o Romantismo Alemão, que posteriormente resultou no argumento da superioridade da raça ariana), o critério de nacionalidade francês sempre foi baseado na vontade: na adesão subjetiva ao corpo da nação. Por um lado esse critério parece interessante, já que não impõe limites tão restritivos quanto o critério germânico. Mas para que esse pertencimento seja completo, é preciso abrir mão da diferença e abraçar a normalidade, ou seja, tornar-se efetivamente um francês, o que exige adesão ao padrão imposto como regra.

É aqui que o tão ostentado ideal de igualdade encontra seu ponto de torção, uma vez que a aceitação exige que se abra mão da condição de não igual, ou seja, de diferente. O leitor mais atento certamente percebeu onde quero chegar.

A crise alimenta a xenofobia, que cresce de forma assombrosa. É fácil culpar o outro pelas dificuldades. São eles, os diferentes, os imigrantes (mesmo os oriundos de países que foram colônias francesas) os bodes expiatórios mais convenientes para as dificuldades que os franceses enfrentam. Tudo isso cria um contexto favorável para que o ódio prospere e seja apropriado como capital simbólico pelos próprios políticos, pois é um discurso que rende dividendos.

Os franceses historicamente demonstram enorme dificuldade para lidar com a diferença. Se apegam desesperadamente a um orgulho doentio pelas realizações do passado e simultaneamente acumulam enorme mágoa pela perda de relevância no presente.

Na França o diferente é no máximo tolerado (como estorvo) e raramente respeitado como outro. Basta pensar na injustificável proibição da burca em lugares públicos, expressão máxima de uma tentativa de imposição de homogeneidade para um corpo social que é extremamente heterogêneo. A França tem a maior população islâmica da Europa Ocidental, com cerca de cinco milhões de muçulmanos, muitos deles franceses nativos, que se sentem injustificadamente oprimidos, pois estão fora do padrão normalizado francês. Não é difícil que o sentimento de opressão experimentado por essa população seja canalizado por extremistas radicais e eventualmente dê causa à violência, por mais mal direcionada que ela possa aparentar. A incompreensão facilmente se degenera em ódio mútuo.

É evidente que não se está aqui de modo algum justificando este ou qualquer outro atentado, muito menos dando vazão para que atos de inaceitável violência possam ser tidos como legítima resistência. Mas a normalização forçada de Paris assusta, principalmente se contrastada com o autêntico melting pot que é Londres, uma capital europeia em que a diferença desfila pelas ruas de forma majestosa.

Os franceses devem enfrentar essas questões, sob pena do pior cenário possível se materializar: que o atentado atinja o espírito da Charlie Hebdo de forma tão impactante como atingiu as vidas de seus colaboradores, dando margem para que a xenofobia cresça e o discurso de extrema direita ganhe ainda mais impulso, em um espiral ascendente de ódio com resultados imprevisíveis. É preciso atentar para o fato de que o mundo islâmico reprovou de forma veemente o massacre e que as ações isoladas de alguns indivíduos não podem ser tidas como representativas de um setor tão significativo da própria sociedade francesa. A história mostra que os discursos de ódio ao outro em nome da defesa do mesmo podem facilmente se prestar aos piores massacres. Que não seja esse o resultado último dessa tragédia, cujas consequências podem atingir muito mais pessoas do que os agressores e as vítimas originais.

Lutar contra essa interpretação desastrosa talvez seja a forma mais digna de honrar o trabalho de quem tanto combateu os radicalismos de todas as ordens. É o que resta. Je suis Charlie!

Salah H. Khaled Jr. é Doutor e Mestre em Ciências Criminais (PUCRS) e Mestre em História (UFRGS). É Professor da Faculdade de Direito e do Mestrado em Direito e Justiça Social da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Autor de A Busca da Verdade no Processo Penal: Para Além da Ambição Inquisitorial, editora Atlas, 2013 e Ordem e Progresso: a Invenção do Brasil e a Gênese do Autoritarismo Nosso de Cada Dia, editora Lumen Juris, 2014. É Conselheiro Editorial do Justificando.

Civilização do lixo, devastadora e desigual

Impulsionado pelo consumismo, descarte urbano cresce três vezes mais que habitantes do planeta. Mas 80% dos resíduos são produzidos por 20% da população mundial…
Por Najar Tubino, na Carta Maior 

Esta é uma montanha que não para de crescer. Nos cálculos da ONU e do Banco Mundial nas últimas três décadas a geração de resíduos sólidos urbanos cresceu três vezes mais rápido do que a população. Os sete bilhões de habitantes produziram 1,4 bilhão de toneladas de lixo e em 10 anos o montante chegará a 2,2 bilhões de toneladas. Lógico que metade desse lixo é gerada pelos países da Organização Para a Cooperação e Desenvolvimento, a OCDE, clube dos 34 ricos do planeta. Entre eles, os países da União Europeia, além de Coreia do Sul, Japão, Austrália e Reino Unido. Os Estados Unidos lideram a estatística, com 5% da população mundial consomem 40% dos produtos, com um detalhe importante: em 2010 a Agência Ambiental (EPA) divulgou que os estadunidenses jogavam 34 milhões de toneladas de sobras de comida todo ano. O Brasil já é considerado o quinto país na lista dos campeões do lixo com 78 milhões de toneladas para 2014. 
 
O pesquisador Maurício Waldmam, pós-doutor pela Unicamp e autor do livro Lixo: cenários e desafios criou uma versão da mitologia grega para traduzir a gravidade da situação. Trata-se do mito da Esfinge, um demônio com corpo de leão, cabeça de mulher e asas de água, que apavorava os habitantes de Tebas. Para ir embora propôs um enigma, decifrado por Édipo, tragédia de Sófocles – “decifra-me ou devoro-te”.

Decifra-me ou te devoro

Eis o que o que a montanha de lixo planetária está nos propondo. Maurício Waldman comenta: “No Brasil, como em qualquer parte do mundo, o que a Era do Lixo está expondo de modo radical é a impossibilidade de mantermos o modus vivendi e modus operandi, que lastreou o surgimento e a difusão da civilização ocidental… o lixo assumiu o contorno de uma calamidade civilizatória. Em termos mundiais, apenas a massa de lixo municipal coletado, estimada em 1,2 bilhão de toneladas, supera a produção global de aço – 1 bilhão. As cidades ejetam dois bilhões de toneladas de refugo, superando em 20% a produção de cereais. Os números falam por si”.

No dia 2 de agosto terminou o prazo para os municípios brasileiros se adequarem a lei federal 12.305, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, depois de tramitar durante 20 anos no Congresso Nacional. Dois dias depois, a Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) lançou a publicação “Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2013”, uma pesquisa realizada em 404 municípios envolvendo quase metade da população. No ano passado foram coletados 76 milhões de toneladas com um aumento de 4,1%, comparado ao ano anterior. Apenas 58,3% dos resíduos têm destinação final adequada. Ou seja, o restante 41,7% são depositados em lixões e aterros controlados, que são quase lixões. Dos mais de cinco mil municípios do país, 3.344 ainda fazem uso de locais impróprios para destinação final de resíduos. E 1.569 municípios utilizam lixões a céu aberto, que é a pior forma de descarte. Enfim, mais da metade dos municípios brasileiros não se adequou à nova legislação, embora desde a década de 1980 seja proibido jogar lixo em qualquer lugar.
 
Nova York gera 24,8 mil toneladas de lixo

Em outubro desse ano, na Índia, o primeiro-ministro Narendra Modi de vassoura em punho lançou a campanha Índia Limpa, e convocou quatro milhões de funcionários públicos federais para se engajarem. “Depois de tantos anos de independência não podemos continuar convivendo com esta imundície”, disse ele, acrescentando que o governo investirá R$24 bilhões em cinco anos para varrer a sujeira. No caso indiano a situação é particularmente grave, porque metade dos 1,2 bilhão de habitantes não tem acesso a banheiros e fazem suas necessidades fisiológicas em qualquer canto. Porém, mesmo entre os ricos o problema continua grave. Os japoneses geraram quase 500 milhões de toneladas de resíduos urbanos e seus aterros sanitários tem vida útil de oito anos. Aqueles que recebem o lixo de Tóquio tem vida útil de quatro anos, conforme a publicação Lixo Zero, do Instituto Ethos, coordenada pelo economista Ricardo Abramovay.

Nova Iorque, onde são geradas 24,8 mil toneladas por dia – em São Paulo são pouco mais de 18 mil toneladas – os resíduos são enterrados em aterros de Nova Jersey, Pensilvânia e até na Virgínia, alguns distantes 500 quilômetros. A capital dos turismo da classe média brasileira recicla apenas 18% do que produz. Aliás, os Estados Unidos reciclam apenas um terço das garrafas pet, índice que é de 72% no Japão. Os estadunidenses produzem 624 mil toneladas de lixo diariamente. E mais: 80% do lixo eletrônico são exportado para a China. Até recentemente os países da OCDE exportavam 200 milhões de toneladas de lixo para outros países. É interessante o estilo de vida dos EUA, onde todos os anos são repostos 600 milhões de quilos de carpetes.

Brasil é o quinto mercado mundial

No Brasil, uma pesquisa recente do Banco Mundial apontou que se 42% dos resíduos sólidos jogados em lixões a céu aberto fossem para aterros sanitários – onde o chorume e o metano são coletados – o aproveitamento do biogás e a compostagem abririam 110 mil novos empregos nos próximos 18 anos e acrescentariam US$35 bilhões na economia. Também supririam 1% da demanda de energia elétrica. Na União Europeia o cálculo apontou que se todo o lixo fosse tratado acrescentaria 42 bilhões de euros no setor de coleta e reciclagem e mais 400 mil empregos. A Alemanha é o país líder na reciclagem com aproveitamento de 48% dos materiais utilizados. O mercado global do lixo da coleta até a reciclagem movimenta US$410 bilhões. Mas a ONU ressalta que os orçamentos dos municípios estão destinados até 30% da sua verba para o lixo. No caso da capital paulista em 2013 foi R$1,8 bilhão, 20% mais do que o ano anterior.

O Brasil até 2020, ou seja, daqui a seis anos, será o quinto maior mercado consumidor do mundo. Já somos o maior consumidor de cosméticos, o segundo em cervejas, o terceiro em computadores, o quarto em carros e motos e o quinto em calçados e roupas. O problema cresce, porque a questão é: o que fazer com a montanha de lixo? A Confederação Nacional dos Municípios diz que são necessários investimentos de R$70 bilhões para atender a demanda dos municípios que jogam os resíduos no lixão.

Cheiro de ovo podre

Porém, isso não explica o óbvio: 80% do consumo privado no mundo é realizado por 20% da população. Quer dizer, 5,6 bilhões de pessoas rateiam o que resta da miséria, mesmo que isso signifique ter um smartphone, televisão fininha e um valão na porta de casa, onde corre o esgoto a céu aberto, com todas as embalagens e utensílios domésticos imaginados. Nos países da OCDE a média de carros por cada mil habitantes é de 750, na China é 150 e na Índia 35. A mesma organização diz que a cada 1% de crescimento nos países emergentes, o lixo acumulado cresce 0,69%. Como os emergentes continuarão crescendo, deduz-se que a montanha idem.

Em meio a isso tudo, a época natalina comercial cristã, com o mercado de luxo bombando no Brasil – em São Paulo ricos de todo o país gastaram R$10 bilhões em 2012 -, comecei a elaborar a seguinte questão: existe um problema maior do que as emissões de gás carbônico, metano e óxido nitroso – os gases estufa – na atmosfera. Trata-se do gás sulfídrico H2S, sulfeto de hidrogênio, conhecido popularmente pelo cheiro de ovo podre, ou pelo cheiro de qualquer rio podre – caso do Tietê, em SP -, ou córrego carregado de esgoto, locais onde o gás se expande. Este cheiro da podridão, de coisa decomposta, degradada, em meio à globalização e a concentração de renda no planeta, é que está definindo os rumos da civilização do lixo. A tecnologia venceu a natureza, pensaram os mecanicistas desde a Revolução Industrial, agora reforçados pelos agentes do sistema financeiro. O que não estava nos planos do capitalismo esclerosado é que a expansão acabaria devorando o mercado com clientes, industriais, comerciantes e demais componentes econômicos afogados em uma gigantesca montanha de lixo. O enigma grego foi decifrado e só falta puxar a descarga.