sexta-feira, 25 de abril de 2014

Prisão de cacique opõe CNBB a governo

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), órgão máximo da Igreja Católica no país, diz estar mais do que decepcionada e irritada com um gesto entendido como censura do governo da presidente Dilma Rousseff à denúncia que seria feita ontem, ao papa Francisco, sobre a situação dos povos indígenas brasileiros.

A reportagem é de Fábio Brandt, publicada pelo jornal Valor, 25-04-2014.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), braço da CNBB dedicado à questão indígena, acusa o governo de ter usado a Polícia Federal para prender e, assim, impedir a ida de um cacique Tupinambá à missa que o Vaticano fez, na tarde de ontem, em homenagem à canonização do Padre José de Anchieta. Ontem mesmo, dias após ter sua prisão pedida, o cacique se entregou em Brasília e está preso, segundo confirmou a PF.

Na missa, afirma o Cimi por meio de sua assessoria de imprensa, o cacique Rosivaldo Ferreira dos Santos, conhecido como Babau Tupinambá, entregaria ao papa Francisco um documento com denúncias sobre violação dos direitos dos povos indígenas pelo governo da presidente Dilma Rousseff. O documento, diz o Cimi, inclui relatos sobre violações provocadas pelas obras da usina de Belo Monte e das hidrelétricas do rio Madeira.

A cúpula da CNBB, diferentemente do Cimi, evita acusar diretamente o governo Dilma de aparelhar a PF e censurar o índio. Mas não poupa críticas à situação. "Todo mundo sabe onde ele [o cacique Babau Tupinambá] mora, sabe onde ele vive. Ele tinha tirado passaporte e, de repente, chega a ordem", diz Dom Leonardo Steiner, secretário-geral da CNBB. "O fato está criado e com repercussão. Não é assim que uma pessoa é impedida de viajar", afirma.

Dom Leonardo diz ainda que "não é pelo fato de ele [o cacique] não viajar, que não vai ser entregue [o documento com as denúncias para o papa]". Ele afirma que o presidente da CNBB, Dom Raymundo Damasceno, entregará o papel ao pontífice "numa próxima viagem" e "se Dom Raymundo não puder entregar, a própria presidência da CNBB entregará".

A Presidência da República não comentou. Já a PF informou que a prisão do cacique deve-se a um "mandado de prisão temporária expedido pelo Juiz da Vara Criminal da Comarca de Una/BA, datado de 20/2/2014". O mandado, de acordo com a PF, foi emitido a partir de representação da delegacia de Polícia Civil da cidade de Una pelo crime de homicídio qualificado.

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