sexta-feira, 21 de março de 2014

Tentativa de Golpe na Venezuela

Relato de Vanessa Aguiar Borges da Brigada Apolônio de Carvalho / MST

Tento aqui, nestas linhas escrever as minhas impressões vividas nestes meses de Venezuela, em especial acerca dos acontecimentos do ultimo mês.

Desde o dia 12 de fevereiro, o país se vê assaltado por ações violentas orquestradas pela direita venezuelana e protagonizada por parte de uma juventude de classe média e média alta com interferência direta de grupos da ultra direita organizada.

12 de fevereiro é o Dia da Juventude para os Venezuelanos. Esta data está ligada ao processo de independência, quando em 1814 jovens foram para a frente de batalha defender a independência e a recém criada república. Então, este seria o ano do Bicentenário desta batalha. No dia anterior, dia 11, foi divulgada uma gravação entre dois conhecidos opositores em que discutiam a ação violenta que aconteceria no dia seguinte, com o intuito de repetir os feitos 11 de abril de 2002, ou seja, declararam a tentativa de golpe de estado. De fato, dia 12, após uma marcha liderada pelo opositor Leopoldo Lópes, um grupo de encapuzados depredou deliberadamente, a luz do dia a sede do Ministério Público e a praça onde fica localizado. Queimaram cinco carros da polícia. Duas pessoas morreram e outras tantas feridas. Deste dia em diante, as ações violentas se concentraram em vários prédios públicos e em ruas e praças de bairros de classe média e classe média alta, além de ônibus e do metro de Caracas. Ao todo, somam 25 mortos, dentre eles, vários policiais mortos a bala. Outros são motoqueiros que caem nas armadilhas montadas nas guarimbas (espécie de barricada montada nas ruas e avenidas dos bairros de classe média de Caracas e outras cidades) ou que caem em enormes buracos deixados pela retirada das tampas de proteção da rede de escoamento de água; pessoas que tentam desfazer as guarimbas para passarem com seus veículos; chavistas que passaram desavisados pelas guaribas; e alguns devido a ação da polícia. Os guarimbeiros constroem armadilhas com arame farpado e pregos na altura do pescoço de um motoqueiro. Muitos foram degolados ao tentarem passar pelas guarimbas montadas. Outros foram acertados por franco atiradores ao tentarem abrir caminho para passarem com seus carros.

Bom, isso se espalhou, inicialmente por 18 municípios do país, TODOS governados por prefeitos da oposição (coincidência não!?). E em nenhum desses municípios a polícia local fez nada para desfazer as guarimbas, e em alguns casos, havia até mesmo colaboração de policiais municipais. Esta semana, dia 12 de março, havia novamente um chamado de toda a oposição para ir à “luta” contra o governo. Uma nova tentativa de golpe. Agem por dois lados: fazem marchas de estudantes, e pessoas da classe média (bem interessante: todos brancos, bem vestidos, com cara e cheiro de classe média falida!), pacificas com caçarolas na mão, sem discursos (não têm lideranças), reclamando da escassez de alimentos e outros produtos básicos, corrupção e interferência de Cuba. Enquanto isso outros grupos atuam nas guarimbas, destroem a cidade, retirando placas, postes, pontos de ônibus, tampas de esgotos para construírem suas guarimbas! Colocam fogo no lixo que recolhem e acumulam, em pneus, lançam conquetel molotov. Agora estão roubando materiais de construção de obras públicas ou de obras privadas, em alguns casos com a colaboração da empreiteira. Fazem isso no próprio bairro onde moram. Em algumas cidades o transito fica caótico pelo trancamento das vias. A GNB (Guarda Nacional Bolivariana) tem intervido com balas de borracha e gás lacrimogênio. Assim, a mídia golpista usa as imagens das marchas pacificas e da atuação da GNB contra os guarimbeiros e diz: na Venezuela o governo reprime manifestações pacificas! Basta sair por alguns municípios da grande Caracas, ou Barquissimeto, ou Mérida, ou Valencia pra ver a sujeira que os bairros de classe média se encontram e as guarimbas ali, ou montadas para usarem a noite, ou queimadas do dia anterior.

Mas essas ações não atingem as áreas populares, nem dos centros das cidades nem nos bairros. Os chavistas estão mobilizados. Marchas, comícios, festas, acontecem todos os dias. São atos políticos, muitas vezes com a presença do presidente Maduro e de representantes do governo. São marchas coloridas, alegres, com musica, criança, barulho, bem típico da alegria do povo venezuelano. Essas ações da direita (entendi porque os chamam de facista) ocasionou uma maior mobilização dos setores populares em defesa do governo, e mais, da Revolução. O povo tá em luta, nas ruas, nas praças, nos seus locais de vida e trabalho. Se fala de política em todos os lugares: nos pontos de ônibus, na fila do mercado ou do banco, e até mesmo nos bares!!! A tentativa de golpe da direta se mostra cada vez mais enfraquecida. Setores menos radicais da oposição já se colocam contra essas ações. As famílias opositoras que vivem nesses bairros de classe média também estão se cansando. Mas o MUD (Mesa Unitária Democrática), a articulação partidária da direita fascista, não se dispõe ao diálogo com o governo. Impões condições: libertar todos os presos (desde o Leopoldo Lopes, que dirigiu as ações de 12 de fevereiro, os vândalos que quebraram desde a empresa de comunicação do governo em vários estados, o Ministério Público, O Ministério de Viviendas, dezenas de ruas, pontos de ônibus e todo tipo de estrutura publica nas ruas, até os que foram identificados e presos por homicídio de policiais), cessar com a “repressão” da GNB às “manifestações”, fim do controle cambial e da regulação de preços de mercadorias. Isso pra começar o diálogo! Ou seja.... O que se passa em Venezuela é uma manipulação de jovens e desta classe média conservadora na tentativa direta de um golpe por desestabilização social, o que acarretaria uma necessária intervenção dos EUA para reestabelecer a paz. Mas eles contavam com uma reação também violente do chavismo, dos movimentos, coletivos. Contavam de fato que poderia haver uma guerra civil, onde os chavistas e o povo que defende a revolução se enfrentariam diretamente com os fascistas. Mas isso não aconteceu. Eles continuam, todavia, tentando e incitando à violência.

Sabem que a única maneira de frear a Revolução, que tem caráter socialista e que, em seu desenvolvimento e aprofundamento histórico, pretende derrocar com toda a estrutura social, política e econômica do capital, é destituindo o governo, democrático eleito e reconhecido. Caso não consigam a tempo, pode de fato ser tarde demais, na medida em que a implantação do Estado Comunal já tem seus primeiros passos em terra com a construção, hoje de mais de mil comunas por todo o pais, urbanas e campesinas.

Como diz em alto e bom tom o povo venezuelano por todos os lados deste lindo país: NO VOLVERAN!!!

Vanessa Aguiar Borges – MST – Brigada Apolônio de Carvalho - Venezuela - 15 de março de 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário