segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Pequeno produtor agroecológico francês busca alternativas de comercialização para os seus produtos


Arnaud Nunes, 40 anos, de descendência franco-portuguesa, vive na cidade de Aulnay, na França e é agricultor orgânico desde 2010. Em entrevista para Beto Oliveira e Mati Chaigneau, esse pai de dois filhos conta um pouco de sua história.
Arnaud Nunes, sendo entrevista por Mathilde Chaigneau.
Antes de se tornar agricultor, Arnaud teve muitas profissões, sempre relacionadas com o campo agrícola. Ele foi empregado numa fazenda de 400 ha, onde trabalhou com produção convencional de hortaliças durante 15 anos, depois trabalhou vendendo máquinas agrícolas, experiência que não lhe agradou muito.

Seu último emprego foi na Câmara da Agricultura do Território, órgão respectivo à uma Regional da Secretaria de Agricultura no Brasil. Durante esse trabalho conheceu diversas experiências e aprendeu muita coisa, foi nesta época que teve acesso a um estudo sobre agricultura, feito em 1974, que tinha informação sobre sua região. Foi quando percebeu que não existiam produtores de hortaliças nesse local.

Refletindo sobre essa informação, com o passar do tempo resolveu voltar para a terra que herdara do avô, os 6 ha que foram herdados pelos pais. Quando seus pais estavam para vender a propriedade, propôs-lhes de utilizar a terra para uma experiência, garantindo que se não desse certo, a venderia em seguida. Iniciou sua produção orgânica de hortaliças e não parou mais. Sua propriedade recebeu o nome "Le Jardin de Maurice" ( O Quintal de Maurice), em homenagem ao seu avô.

Para ele, existe uma grande diferença entre a agricultura convencional e a orgânica. A primeira, foca em lutar contra as doenças utilizando moléculas químicas e não se preocupa com o estado da terra. A segunda, demonstra grande preocupação com o estado da terra e evita as doenças graças à rotação de cultura.

Com base na segunda proposta, ele faz rotação de cultura em sua propriedade utilizando cereais e hortaliças, pois, apesar dos cereais não gerarem muita renda, possibilitam deixar sua terra mais saudável. Após a colheita, os cereais são vendidos principalmente à um agricultor, que usa na alimentação dos animais, para produção de leite orgânico. Às vezes ele vende parte dos cereais para um produtor de cerveja orgânica e para um produtor de biscoitos orgânicos.
Uma das diversas espécies de batata que são produzidas e comercializadas por Arnaud.
Arnaud tem como cultivo principal a batata ("pomme de terre"), que é bastante plantada na região e tem um ciclo de rotação de 6 a 7 anos, ou seja, durante esse período ele não pode plantar batata novamente na mesma área. Também cultiva hortaliças, que são sua principal fonte de renda, pois planta cerca de 50 variedades. Entre elas tem de tudo, as hortaliças de verão, como berinjela, tomate, abobrinha e pimentão e, as hortaliças de "guarda" (produzidas durante o inverno), como nabo, beterraba, cenoura, batata, "celeri" (aipo) e abóboras

Dentro dos 6 ha de terra ele possui uma área de 1.000 m2 coberta com estufas, que conseguiu com a renda gerada pela comercialização dos "paniers" (cestas), sem a necessidade de financiamento com o banco, coisa que ele deixa claro evitar sempre que possível. Nessa área é onde se concentra a produção de hortaliças, sendo responsável pela garantia da variedade de produtos no inverno, que é bastante rigoroso na região e delimita bastante a produção.

Alguns agricultores convencionais que visitam sua área se surpreendem, pois existem poucas ervas daninhas. Arnaud explica que como não usa adubo químico, não tem infestação de ervas daninhas, com isso não necessita usar agrotóxico para controla-las, o que provoca o aumento das ervas daninhas.

Quando o assunto é a comercialização ele também tem suas estratégias. Atualmente trabalha com três mercados certos para vender seus produtos, a feira municipal de Saint-Dizier, o sistema de "paniers" (cestas) e, a entrega dos produtos que não são vendidos na feira para o refeitório de um órgão público na cidade de Troyes (município vizinho).

Entre essas estratégias de comercialização a principal é a Feira Municipal de Saint-Dizier, que ocorre todo sábado de 8 às 12 horas e tem grande frequência dos moradores. Durante a feira a barraca de Arnaud está sempre cheia, havendo fila para o atendimento, que é realizado por ele, sua mãe ou seu pai (às vezes os dois) e uma pessoa contratada.

A barraca apresenta grande variedades de produtos, diversas hortaliças, batatas, feijões, temperos verdes, ovos e frutas variadas, que as vezes são compradas de outros produtores orgânicos e revendidas. Ele também vende outros produtos que são de seus vizinhos, como óleo de girassol e canola, feijão verde e lentilha seca.
 
Alguns dos produtos comercializados na feira, ao fundo berinjelas e pimentões, na frente diferentes tipos de abóboras.
Além da feira, ele desenvolveu o sistema de comercialização de "paniers" (cestas), o que lhe garante certeza da comercialização de seus produtos e uma boa renda extra. O sistema de "paniers" funciona da seguinte forma: o agricultor oferece online toda segunda feira, a um grupo definidos de pessoas, uma lista dos produtos semanais, que os interessados buscam toda sexta feira, na casa do produtor, ao custo de dez euros.

Arnaud conseguiu fechar um contrato anual com um grupo de 40 pessoas, moradores da região que tinham interesse em obter alimentos orgânicos. Com base nesse acordo eles funcionam como se fossem uma AMAP - Association de Maintien de la Agriculture Paysan (Associação de Manutenção da Agricultura Camponesa), onde o agricultor se compromete e entregar, durante o período de um ano, cestas semanais com alimentos orgânicos e, os moradores, por sua vez, se comprometem em garantir a compra destas cestas.

Também oferece o serviço de "paniers" para diversos moradores de Saint-Dizier, que buscam as cestas na feira municipal, ao custo de 10 euros. É o agricultor que decide o que vai dentro das cestas (no geral vão sempre batatas no fundo) e os produtos tem o mesmo valor que são vendidos na barraca, mas evita que as pessoas tenham que escolher ou esperar na fila para comprar, quando chegam na feira os "paniers" já estão prontos.

Como forma de garantir que seus produtos são orgânicos ele trabalha com duas certificações, o selo francês (AB) e o da União Europeia. Atualmente os dois selos são utilizados em conjunto, havendo indicações de que o selo AB será substituído pelo da União Europeia, futuramente. 


A certificação funciona da seguinte forma, o produtor tem acesso às regras (caderno de especificações técnicas) e, depois de ler e concordar com elas, pede sua adesão. Após a adesão ele recebe uma visita de inspeção uma vez por ano, momento em que são avaliadas as faturas de compras (recibos dos pagamentos de insumos), para ter certeza que os produtos comprados foram orgânicos. Também são realizadas análises da terra e às vezes das próprias hortaliças.

O agricultor pode escolher a estrutura que vai ser responsável pela sua certificação, Arnaud encontrou uma organização bem pequena, que trabalha em sua região. Além da visita anual, ela faz de uma a duas visitas durante o ano, sem avisar a data em que virá, momento em que faz a fiscalização e observa se tudo está de acordo com as regras. O preço da certificação depende do tamanho da terra e do número de visitas realizadas, quanto maior a área e a quantidade de visitas, maior o valor pago. No caso dele o custo dos 6 ha com duas a três visitas ao ano fica em 500 euros.

Arnaud e seu pai, Hélio, ao lado da placa de identificação de seus produtos
Todo esse trabalho e realizado somente pela família, na parte da produção ele conta com o apoio do pai (que é aposentado) e uma jovem que contratou em tempo parcial. O pai ajuda-o todos os dias, uns dias mais que outros. A jovem foi contratada para trabalhar em tempo parcial, incluindo as manhãs de sábado na feira.

A maioria do trabalho é realizado na área das estufas, onde são plantados os cultivos rápidos. Além dos trabalhos relacionados ao plantio e aos tratos culturais, são necessárias duas horas de trabalho administrativo por semana. Durante esse tempo são feitas as encomendas de sementes, o controle dos "paniers" e pesquisas relacionadas à produção.

Arnaud, que tem formação técnica em eletromecânica, está bem integrado nos circuitos de economia solidária, além das suas formas de comercialização, que priorizam os circuitos curtos, ele ajuda uma agricultora com a manutenção de suas máquinas e, em troca ela ajuda-o nos momentos de maior trabalho, durante as safras.

Dessa forma ele contribui para a criação de uma proposta diferente de desenvolvimento, buscando o fortalecimento das redes sociais locais e a produção de alimentos de forma saudável e equilibrada.

"É um trabalho diário, mas eu estou feliz, sempre quis ser agricultor e fazer isso."
Arnaud Nunes, Inverno de 2014, Saint-Dizier, France.

Enviada por:
José Roberto Oliveira

 Mathilde Chaigneau
France

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Pela primeira vez a Bahia receberá edição do Simpósio Internacional de Indicação Geográfica


A cidade de Ilhéus, no sul da Bahia, pela primeira vez será palco do principal evento de Indicação Geográfica já realizado no Brasil, o Simpósio Internacional de Indicação Geográfica. Na sua terceira edição, o evento, organizado pela Universidade Estadual de Santa Cruz  (UESC) em parceria com o Instituto Superior de Sustentabilidade (iSUS) e o Instituto Biofábrica, traz, como tema principal “A origem territorial como ferramenta estratégica de diferenciação nos mercados”. O simpósio acontecerá de 18 a 21 de novembro no Centro de Convenções Luiz Eduardo Magalhães.

O III SIIG objetiva aproximar o tema Indicação Geográfica do seu público alvo, principalmente aqueles que buscam proteção legal para seus produtos, agregação valor e novos mercados. Está confirmada a participação de diversas autoridades brasileiras e internacionais que juntos estarão apresentando e discutindo o que está acontecendo no mundo e no Brasil, visando potencializar o surgimento de novas IGs em nosso país.

Indicação Geográfica (IG) é um tema relativamente novo no Brasil e em nossa região. De acordo com o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) “as Indicações Geográficas se referem a produtos ou serviços que tenham uma origem geográfica específica. Seu registro reconhece reputação, qualidades e características que estão vinculadas ao local. Como resultado, elas comunicam ao mundo que uma certa região se especializou e tem capacidade de produzir um artigo diferenciado e de excelência”. No Brasil ela se divide em duas categorias: Indicação de Procedência - nome geográfico de um país, cidade, região ou uma localidade de seu território que se tornou conhecido como centro de produção, fabricação ou extração de determinado produto ou prestação de determinado serviço e Denominação de Origem - nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu território, que designe produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos.

Para o III SIIG algumas novidades estão sendo preparadas paralelo ao Simpósio, a “1ª Feira interativa de Indicações Geográficas” (1ª FIIG), que visa promover e divulgar as IGs oficialmente reconhecidas no Brasil e já conta com cerca de 21 IGs nacionais confirmadas e a Feira Origem Bahia, que tem como objetivo principal apresentar as potencialidades de indicação geográfica dos produtos e serviços baianos.

Outra inovação é a abertura de inscrições para a participação de produtores rurais de forma individual e através de grupo de produtores organizados em associações, cooperativas e sindicatos. Este formato possibilita ao agricultor regional a oportunidade ímpar de conhecer um pouco mais sobre IG através dos minicursos, palestras e a presença de experiências concretas de IGs brasileiras. O evento trará ainda ambientes repletos de atividades culturais, apresentações de grupos regionais, visitas técnicas a áreas de produção do cacau cabruca, fábricas de chocolate e alambique.

A participação dos produtores(as) rurais e agricultores(as) familiares da região cacaueira da Bahia é importante nesse momento pois o potencial para adquirir IG na Bahia é enorme, tanto com produtos regionais quanto com serviços oferecidos. A região cacaueira da Bahia já está se organizando para dar entrada do pedido da IG “Sul da Bahia” junto ao INPI através da Associação Cacau Sul Bahia. A associação que visa proteger e preservar a paisagem da região, sua origem, história e cultura, valorizando o produto cultivado sob as árvores da Mata Atlântica, através de um método que busca conservar o meio ambiente o sistema Cabruca, em assembleia realizada no dia 31 de outubro, já apresentou toda documentação que será depositada no INPI, com o aval do Ministério da Agricultura, para a criação da Identidade Geográfica do cacau sulbaiano.

Programação completa visitem:
http://nbcgib.uesc.br/nit/evento/siig/public/programacao.php

Maiores informações para inscrições para produtores rurais de forma individual e grupos de produtores organizados poderão ser feitas através link abaixo:
http://nbcgib.uesc.br/nit/evento/siig/public/inscricao.php

Outras informações visitem:
http://nbcgib.uesc.br/nit/evento/siig/public/index.php 

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Documentário "O Veneno Está na Mesa II" de Sílvio Tendler


 Versão em português
Subtitulado en Español
 subtitled in English
Após impactar o Brasil mostrando as perversas consequências do uso de agrotóxicos em O Veneno está na Mesa, o diretor Sílvio Tendler apresenta no segundo filme uma nova perspectiva. O Veneno Está Na Mesa 2 atualiza e avança na abordagem do modelo agrícola nacional atual e de suas consequências para a saúde pública. O filme apresenta experiências agroecológicas empreendidas em todo o Brasil, mostrando a existência de alternativas viáveis de produção de alimentos saudáveis, que respeitam a natureza, os trabalhadores rurais e os consumidores.

Com este documentário, vem a certeza de que o país precisar tomar um posicionamento diante do dilema que se apresenta: Em qual mundo queremos viver? O mundo envenenado do agronegócio ou da liberdade e da diversidade agroecológica?

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After the impact of the first film, 'The Poison Is On The Table II' updates and goes deeper on the evil consequences for public health, caused by the use of chemicals in agriculture. This second feature focuses on the possible alternatives, respecting the environment, the country worker, and the consumer. With this documentary, comes a big question on which we must think: In which world do we want to live in? The poisoned world of the 'aggro-business' or the world of freedom and agricultural diversity?
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Realização: Caliban Cinema e Conteúdo
Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida
Fiocruz
Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio
Bem Te Vi
Cineclube Crisantempo